Rússia bloqueia o site SoundCloud, acusado de difundir ‘informações falsas’

Moscou chegou a solicitar a exclusão de conteúdo informativo relacionado à guerra, mas o site não atendeu ao pedido

A Rússia anunciou no domingo (2) que foi bloqueado em todo o país o acesso o site SoundCloud, de armazenamento e compartilhamento de arquivos de áudio. Moscou acusa a página de disseminar “informações falsas” sobre a guerra na Ucrânia, de acordo com a rede Radio Free Europe (RFE).

O bloqueio foi feito pelo o Roskomnadzor, órgão estatal regulador da mídia na Rússia, a pedido da Procuradoria-Geral do país.

“O Roskomnadzor restringiu o acesso ao serviço SoundCloud em conexão com a publicação de materiais contendo informações falsas sobre a natureza da operação militar especial no território da Ucrânia”, disse a agência estatal russa Interfax.

Os primeiros relatos apontam que somente o site foi atingido pelo bloqueio, sendo que o aplicativo para telefones celulares continuava ativo ao menos até domingo (2).

A página vinha sendo usada para publicar conteúdo tanto pela mídia russa quanto por músicos e autores de podcasts independentes. A Procuradoria-Geral chegou a solicitar a remoção pelo SoundCloud de conteúdo relacionado à guerra, mas não foi atendida.

SoundCloud: acesso ao site foi bloqueado na Rússia (Foto: Rachit Tank/Unsplash)
Por que isso importa?

Desde o início da guerra na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, o Roskomnadzor acusa inúmeros veículos de publicarem “informações falsas” sobre a guerra. Nesse cenário, autoridades ameaçam multar ou bloquear aqueles que se recusem a apagar publicações sobre o conflito.

O governo contesta quaisquer relatos de bombardeios russos a cidades ucranianas e baixas civis, bem como textos que usam expressões como “ataque”, “invasão” ou “guerra”. Moscou exige que se fale em “operação militar especial” nas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk e determina que sejam publicadas apenas informações distribuídas por fontes do governo.

No início de março, a censura atingiu redes sociais como Facebook e Twitter, além de diversos sites informativos russos e estrangeiros em atividade no país. Eles foram parcialmente bloqueados em meio à repressão imposta por Moscou às vozes dissonantes durante a guerra.

A fim de legitimar a censura, o Legislativo da Rússia aprovou naquela mesma época uma lei que criminaliza a distribuição do que o governo vier a considerar “notícias falsas” sobre operações militares russas. Trata-se de mais uma ferramenta de censura do Kremlin para reprimir a oposição e silenciar os meios de comunicação independentes.

Oficialmente, o objetivo da normativa legal é “impedir o descrédito das forças armadas da Federação Russa durante suas operações para proteger os interesses da Federação Russa e de seus cidadãos, mantendo a paz e a segurança internacionais”.

Na prática, a lei determina que os meios de comunicação, redes sociais inclusive, se limitem a divulgar informações alinhadas à narrativa do governo. Assim, devem omitir, por exemplo, referências a crimes de guerra cometidos pelas tropas russas e derrotas militares de Moscou. A intenção é transmitir uma imagem favorável à Rússia, como parte da propaganda estatal que se espalhou por todo o mundo.

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