Tinder acompanha concorrentes e anuncia que deixará de funcionar na Rússia

Aplicativos de relacionamento deixam o mercado russo em um momento ruim para os solteiros, com 60 milhões de russos se dizendo solitários

As alternativa são cada vez mais escassas para os russos e russas que costumam usar a internet para iniciar um relacionamento. Depois do Bumble e do Baddo, que já haviam encerrado suas atividades na Rússia, agora é a vez de o Tinder parar de funcionar no país. As informações são do jornal The Moscow Times.

A empresa Match Group, gestora do popular aplicativo, disse que deixará a Rússia no dia 30 de junho, embora não tenha dado maiores detalhes do procedimento. Alegou apenas que está “comprometida com a proteção dos direitos humanos”, sugerindo que a decisão está relacionada à guerra da Ucrânia desencadeada pela invasão russa de 24 de fevereiro de 2022.

Quando deixou a Rússia, o Badoo, outra potência do setor, simplesmente baniu usuários localizados no território russo. Com a saída dos concorrentes, o Tinder havia ganhado ainda mais terreno, passando a responder por 25% do setor. Opções locais como o Mamba também cresceram, algo que deve se repetir agora sem o mais famoso dos aplicativos de relacionamento.

Celular exibe o aplicativo de relacionamentos Tinder: de saída da Rússia (Foto: Yogas Design/Unsplash)

Maxim Khramov, chefe do LovePlanet, outro rival russo do Tinder, prevê que a mudança não causará grande impacto na rotina dos usuários. Ele alega que basta migrar de um para outro. “A transição dos usuários é facilitada pelo fato de que os aplicativos de namoro têm funcionalidade, cenários de usuário e interfaces semelhantes”, disse ele.

Entretanto, nem todos têm a mesma visão progressista. Vladislav Davankov, vice-presidente da Duma Estatal, sugeriu uma ação governamental para ajudar os russos que buscam companhia. E minimizou o anúncio feito pelo Match Group.

“A retirada do Tinder não é uma grande perda”, disse ele. “Existem muitos serviços de entretenimento para encontros. Mas a Rússia definitivamente precisa de um projeto federal para combater a solidão.”

A manifestação do parlamentar está atrelada a uma recente pesquisa que indicou que cerca de 60 milhões de russos se sentem solitários. Problema ainda maior reside no fato de que uma em cada dez mulheres nunca foi casada, o que compromete o crescimento demográfico do país.

“Precisamos de um serviço normal para namoro sério. Com verificação para eliminar casados, vigaristas e condenados por crimes violentos”, disse Davankov.

Por que isso importa?

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, mais de mil empresas ocidentais deixaram de operar em território russo, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral. São companhias que querem evitar o risco de desobedecer as sanções ocidentais, ou mesmo a reação negativa da opinião pública caso continuem a lucrar no mercado russo. O levantamento foi feito pela Universidade de Yale, nos EUA.

A debandada prejudica o consumidor local, privado de produtos de setores diversos, como entretenimento, tecnologia, automobilístico, vestuário e geração de energia.

No setor de alimentação, o McDonald’s vendeu seu negócio no país a um empresário russo. Ao fim de 2021, a rede tinha 847 lojas no país. Diferente do que ocorre no resto do mundo, onde habitualmente atua no sistema de franquias, 84% das lojas russas eram operadas pela própria companhia. Somado ao faturamento na Ucrânia, a operação respondia por 9% da receita global da empresa.

Duas importantes cervejarias da Europa, a holandesa Heineken e a dinamarquesa Carlsberg, também anunciaram que venderiam seus negócios e deixariam de atuar na Rússia.

Uma situação que causou problemas sérios aos russos foi o fim dos serviços das companhias de cartões de crédito MastercardVisa. Cartões emitidos na Rússia deixaram de ser aceitos no exterior, o que atrapalhou turistas provenientes da Russia. No ano passado, um grupo deles foi impedido de deixar a Tailândia por problemas com voos cancelados e cartões bloqueados.

No setor de vestuário, quem anunciou estar deixando o mercado russo é a Levi’s, sob o argumento de que quaisquer considerações comerciais “são claramente secundárias em relação ao sofrimento humano experimentado por tantos”. Nike e Adidas também suspenderam todas as operações no mercado russo. A sueca Ikea, gigante do setor de móveis, é outra que decidiu deixar a Rússia em função da guerra.

Nas áreas de entretenimento e tecnologia, alguns gigantes também optaram por suspender as vendas de produtos e serviços no país de Vladimir Putin. A Netflix interrompeu seus serviços e cancelou todos os projetos e aquisições na Rússia, enquanto WarnerDisney e Sony adiaram os lançamentos de suas novas produções no país.

Apple excluiu os aplicativos das empresas estatais russas de mídia RT e Sputnik e disse que não mais venderá seus produtos, como iPhonesiPads, em território russo. Panasonic, Microsoft, Nokia, EricssonSamsung são outras que optaram por encerrar as operações no país.

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