Nesta quarta-feira (14), a Justiça russa proferiu uma sentença de sete anos e meio de prisão contra Lilia Chanysheva, ex-coordenadora regional do ativista de oposição Alexei Navalny, principal adversário do presidente Vladimir Putin. Ela foi acusada de formar um grupo extremista. As informações são do jornal independente The Moscow Times.
Lilia, de 41 anos, desempenhou a função de líder do escritório político de Navalny na cidade de Ufa, localizada no centro da Rússia, até que se viu obrigada a dissolvê-lo em 2021. Essa medida foi tomada pelas autoridades que colocaram a rede de ativistas de Navalny na lista negra, rotulando-a como “extremista”.
Após o veredito, Lilia foi flagrada em vídeo agradecendo aos seus apoiadores. Ela estava dentro de uma caixa de vidro no tribunal, onde os réus são colocados, quando expressou sua gratidão.
“Lidar com essa sentença é muito mais fácil com vocês ao meu lado. Eu realmente preciso das suas cartas e cartões postais”, afirmou.
Protesto contra a prisão do político de oposição e ativista Alexei Navalny, preso pelas autoridades após seu retorno à Rússia. São Petersburgo, janeiro de 2021 (Foto: Bestalex/Wikimedia Commons)
Durante sua declaração final ao tribunal no mês passado, Lilia deixou claro que o caso de “extremismo” contra ela tinha motivação política. Ela enfatizou que seus direitos políticos, assim como os direitos de seus compatriotas, têm sido constantemente violados, o que revela o desejo de Putin de eliminar qualquer forma de dissidência, visando manter-se no poder em 2024.
Em novembro de 2021, Lilia se tornou a primeira entre os associados de Navalny a ser presa sob acusações de “extremismo”. A maioria dos outros principais assessores do preso político fugiu da Rússia e agora vive no exílio.
No ano passado, a equipe de Navalny alertou que Lilia poderia enfrentar uma sentença de até 18 anos de prisão, pois foram acrescentadas duas acusações adicionais de “extremismo” e uma por criar uma organização que “viola os direitos dos cidadãos”.
Em abril, a mídia estatal russa divulgou que os investigadores incluíram 11 pessoas em uma “lista internacional de procurados” em um caso criminal relacionado a Navalny.
Atualmente, Navalny cumpre pena de mais de 11 anos de prisão e passou o dia do aniversário em uma cela de isolamento solitário, punição que se tornou habitual ao longo da detenção.
Por que isso importa?
Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.
Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.
Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho daquele ano, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.
Nos meses seguintes, novas acusações surgiram contra o rival de Putin. Em janeiro de 2022, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março do ano passado, foi julgado por peculato e desacato, com o tempo de detenção ampliado para 11 anos e meio.
Mais recentemente, em abril de 2022, novas acusações de “terrorismo” foram apresentadas contra ele pela Justiça da Rússia, o que pode levar a uma sentença de prisão perpétua em caso de condenação.