Ano foi marcado por graves violações dos direitos das crianças, segundo o Unicef

Crianças são vítimas de abusos sexual e abdução, são usadas como soldados e convivem com a ameaça de armas explosivas em conflitos no mundo todo

Conflitos armados, violência intercomunitária e insegurança continuaram a causar um impacto devastador em milhares de crianças ao longo de 2021, conforme relatou nesta sexta-feira (31) o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Do Afeganistão ao Iêmen, da Síria ao norte da Etiópia, o órgão denunciou graves violações contra jovens em conflitos prolongados e novos.

Na semana passada, quatro crianças estavam entre as vítimas de um ataque que matou pelo menos 35 pessoas no Estado de Kayah, no leste de Mianmar. “As partes em conflito continuam a demonstrar um terrível desrespeito pelos direitos e pelo bem-estar das crianças”, disse a diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore. “Crianças estão sofrendo e morrendo por causa dessa insensibilidade. Todo esforço deve ser feito para manter as crianças protegidas do perigo”.

Ainda não há dados fechados disponíveis para este ano, mas a ONU verificou 26.425 violações graves contra crianças em 2020. Os primeiros três meses de 2021 viram uma ligeira diminuição no número geral, mas os casos verificados de abdução e violência sexual continuaram a aumentar em taxas alarmantes – em mais de 50% e 10%, respectivamente.

As abduções foram mais altas na Somália, seguida pela República Democrática do Congo (RDC) e os países da Bacia do Lago Chade: Chade, Nigéria, Camarões e Níger. Já os casos verificados de violência sexual foram mais elevados na RDC, na Somália e na República Centro-Africana (CAR).

Ano foi marcado por graves violações dos direitos das crianças, segundo o Unicef
Criança se abriga em escola da Unrwa, na Faixa de Gaza, em meio a bombardeios entre Israel e Hamas, maio de 2021 (Foto: Unicef/Eyad El Baba)

Nos últimos 16 anos, a ONU verificou 266 mil casos de violações graves contra crianças em mais de 30 situações de conflito em África, Ásia, Oriente Médio e América Latina. Embora esses casos tenham sido verificados por meio do Mecanismo de Monitoramento e Relatório das Nações Unidas de 2005, os números reais são provavelmente muito mais altos, de acordo com o Unicef.

O Afeganistão, por exemplo, tem o maior número de casos desde 2005. Com mais de 28,5 mil incidentes, o país é responsável por 27% de todas as vítimas infantis verificadas no mundo. Enquanto isso, o Oriente Médio e o Norte da África têm o maior número de ataques verificados a escolas e hospitais, com 22 nos primeiros seis meses do ano.

Em outubro, o Unicef destacou que 10 mil crianças foram mortas ou mutiladas no Iêmen desde que os combates aumentaram em março de 2015 – o equivalente a quatro jovens por dia. O órgão também afirmou que, a cada dia, “meninas e meninos que vivem em áreas sob conflito suportam horrores indescritíveis que nenhum ser humano deveria experimentar”.

Um desses horrores é a ameaça persistente e crescente de armas explosivas, especialmente em áreas povoadas. Em 2020, armas explosivas e restos de guerra foram responsáveis ​​por quase 50% de todas as vítimas infantis, resultando em mais de 3,9 mil crianças mortas e mutiladas.

As crianças muitas vezes são vítimas de várias violações graves de direitos. No ano passado, por exemplo, 37% dos sequestros verificados pela ONU levaram ao recrutamento e uso de crianças na guerra – ultrapassando 50% na Somália, na RDC e na CAR.

O Unicef pede que todas as partes do conflito se comprometam com planos de ação formais. Desde 2005, apenas 37 desses planos foram assinados pelas partes em conflito, o que o Unicef classifica como “um número chocantemente baixo, dados os riscos para as crianças”.

“Em última análise, as crianças que vivem na guerra só estarão seguras quando as partes em conflito tomarem medidas concretas para protegê-las e parar de cometer violações graves”, disse Fore.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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