Após queima do Alcorão, ONU aprova resolução contra o ódio religioso

Moção teve 28 votos a favor, entre eles os de China e Índia, e 12 contra, inclusive os de EUA, Reino Unido, França e Alemanha

Os recentes episódios de queima de cópias do Alcorão ocorridos na Suécia, que geraram indignação entre a comunidade muçulmana, levaram a um debate de urgência no Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). Nesse sentido, o órgão votou e aprovou na quarta-feira (12) uma resolução que condena e rejeita a intolerância religiosa.

O debate teve como tema “o aumento alarmante de atos premeditados e públicos de ódio religioso, manifestados pela profanação recorrente do Corão Sagrado em alguns países europeus e outros.” Já a resolução foi aprovada sob o título “combate ao ódio religioso que constitui incitamento à discriminação, hostilidade ou violência.”

A moção foi apresentada por Paquistão e Palestina e contou com o apoio sobretudo de nações em desenvolvimento, com destaque para a China e alguns de seus aliados, como Argentina e Cuba. A Índia também votou a favor. Entre os que votaram contra estão nações ocidentais como EUA, Reino Unido, França e Alemanha.

Na crença islâmica, o Alcorão é o livro sagrado dos muçulmanos que contém revelações que Alá transmitiu a Maomé (Foto: WikiCommons)

A resolução insta as nações a adotarem medidas para que os responsáveis por episódios como o da Suécia “sejam responsabilizados e prestem contas ​​de maneira consistente com as obrigações dos Estados sob as leis internacionais de direitos humanos.”

O episódio mais recente de queima do Alcorão ocorreu no dia 28 de junho, do lado de fora de uma mesquita em Estocolmo. O autor da manifestação foi Salwan Momika, um refugiado iraquiano de 37 anos que vive na Suécia e solicitou autorização à polícia para realizar o ato, sob o argumento de “expressar sua opinião” sobre o livro sagrado muçulmano.

O ofensivo protesto, no entanto, já é recorrente entre membros da extrema direita e frequentemente é associado ao político dinamarquês-sueco radical Rasmus Paludan, que ateou fogo no livro sagrado do Islã do lado de fora da embaixada turca na Suécia em janeiro. No entanto, Paludan não esteve envolvido na ação ocorrida em junho.

Volker Turk, alto comissário da ONU para os direitos humanos, condenou atos do gênero, argumentando que eles ofendem as “crenças mais íntimas” e podem levar à “polarização das sociedades e agravamento de tensões”, transformando “diferenças de perspectiva em ódio, e, ocasionalmente, em violência.”

Já o embaixador paquistanês em Genebra, Khalil Hashmi, criticou as nações que votaram contra a resolução. “A oposição de alguns na sala emanou de sua falta de vontade de condenar a profanação pública do Alcorão Sagrado ou de qualquer outro livro religioso”, disse ele, segundo a agência Associated Press (AP). “Eles não têm coragem política, legal e moral para condenar esse ato, e era o mínimo que o Conselho poderia esperar deles.”

Por sua vez, a representante norte-americano no Conselho, Michele Taylor, fez um discurso incompatível com o voto do país dela, dizendo que condena “veementemente os atos que precipitaram a discussão de hoje, incluindo a profanação do Alcorão Sagrado em 28 de junho.”

Ela argumentou que a falta de um debate mais aprofundado sobre o problema impediu que houvesse consenso na votação, de acordo com a rede France 24. “Estou realmente com o coração partido por este Conselho não ter conseguido falar como uma voz unânime hoje para condenar o que todos concordamos serem atos deploráveis ​​de ódio anti-muçulmano, respeitando também a liberdade de expressão”, declarou.

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