Pobreza, desigualdade e exclusão alimentam o terrorismo, alerta chefe da ONU

António Guterres diz que o problema é acima de tudo social, sendo necessário "um grande esforço global" para combatê-lo

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Com o terrorismo representando uma ameaça complexa, em constante evolução e multifacetada, as agências de aplicação da lei se reuniram na sede das Nações Unidas em Nova York na segunda-feira (19) em busca de uma resposta multilateral abrangente, inclusiva e eficaz. O dia também marcou o início da Terceira Semana Antiterrorista da ONU (Organização das Nações Unidas).

Dirigindo-se aos delegados “na vanguarda de um grande esforço global”, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que o terrorismo afeta todas as regiões do mundo, ao mesmo tempo em que se aproveita das vulnerabilidades locais e nacionais.

“A pobreza, as desigualdades e a exclusão social alimentam o terrorismo. Preconceito e discriminação direcionados a grupos, culturas, religiões e etnias específicas o inflamam”, disse o chefe da ONU, acrescentando que atividades criminosas como lavagem de dinheiro, mineração ilegal e tráfico de armas, de drogas, de artefatos roubados e de seres humanos ajudam a preencher cofres.

António Guterres em imagem de agosto de 2012 (Foto: United States Mission/Eric Bridiers)
Ferramentas antiterroristas da ONU

Uma vez que o terrorismo se desenvolve em crises complexas sem nenhuma região imune, a resposta à ameaça precisa ser multilateral e coordenada, disse Guterres, citando algumas ferramentas-chave da ONU que podem ajudar a combater o flagelo.

Ele apontou para o Pacto Global de Coordenação Contra o Terrorismo da ONU, que está ajudando os países a implementar a Estratégia Global Contra o Terrorismo.

A ONU está ajudando organizações regionais como a União Africana (UA), trabalhando em estreita colaboração com a sociedade civil, incluindo vítimas do terrorismo, líderes religiosos, mulheres e jovens, para moldar respostas, políticas e programas antiterroristas.

Quatro prioridades

Guterres destacou quatro áreas prioritárias às quais a comunidade antiterrorista deveria direcionar seus esforços. Em primeiro lugar, disse que a Estratégia Global Contra o Terrorismo da ONU precisa ser fortalecida. Nesta semana, espera-se que a Assembleia Geral adote por consenso uma resolução que revise a Estratégia.

A segunda área de foco precisa ser a prevenção, o que significa abordar as condições subjacentes que levam ao terrorismo em primeiro lugar – como pobreza, discriminação, descontentamento, infra-estrutura e instituições fracas e violações grosseiras dos direitos humanos.

Isso significa “mais do que apenas frustrar ataques e interromper tramas”. Também é necessário garantir que as estratégias e medidas de combate ao terrorismo reflitam todas as comunidades, grupos e vozes.

O terrorismo representa a negação e a destruição dos direitos humanos, disse o secretário-geral. “E assim a luta contra isso nunca terá sucesso se perpetuarmos a mesma negação e destruição”, acrescentou.

Identificando a promoção dos direitos humanos como a terceira prioridade, o secretário-geral expressou sua convicção de que todas as políticas e iniciativas de combate ao terrorismo devem ser baseadas no respeito pelos direitos humanos. Isso deveria incluir o direito à repatriação.

Mancha dos campos da Síria

“Apesar da derrota territorial do Daesh (sigla usada para identificar o Estado Islâmico) há mais de quatro anos, mais de 50 mil crianças, mulheres e homens ainda permanecem em Al-Hol e outros campos e centros de detenção no nordeste da Síria, submetidos a terríveis condições humanitárias e de segurança e abusos dos direitos humanos”, lembrou Guterres.

Ele elogiou o Iraque e outros Estados-Membros trabalhando para repatriar cidadãos dos campos e reiterou seu apelo para que todas as nações acelerem o ritmo de repatriação como uma prioridade urgente.

Financiamento adequado

Finalmente, Guterres pediu um financiamento mais sustentável para os esforços de combate ao terrorismo. E, agradecendo aos Estados-Membros pelo financiamento já fornecido, alertou que os fundos estavam se esgotando, com algumas contribuições estatutárias para o ano ainda não pagas.

Ele alertou que isso poderia ter consequências de longo alcance, tanto para os esforços de manutenção da paz da ONU quanto para o Escritório de Contraterrorismo.

Um futuro sem terrorismo

Existem mais de 40 eventos paralelos diferentes apoiados por Estados-Membros e organizações multilaterais que ocorrerão durante a semana.

“Em nome de todos os que sofreram e continuam a sofrer, e em nome de todas as vítimas e sobreviventes, vamos intensificar o nosso trabalho para criar um futuro sem terrorismo”, concluiu o chefe das Nações Unidas.

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