Cólera e doenças infecciosas surgem como ameaça em meio aos cortes de Israel em Gaza

Organizações humanitárias alertam que doenças transmitidas pela água irão se disseminar na região se a ajuda não for autorizada

Em meio à guerra, a falta de água potável em Gaza se transformou em uma enorme ameaça à saúde das populações afetadas. Isso porque ela chega à região por meio de fontes como um gasoduto de Israel, instalações de dessalinização no Mar Mediterrâneo e poços, fornecimento que foi interrompido por parte do governo israelense em resposta aos ataques extremistas. As informações são da agência Al Jazeera.

A população de Gaza tem enfrentado uma situação cada vez mais desastrosa, com um corte total de eletricidade desde 11 de outubro, uma crescente insegurança alimentar e um sistema de saúde à beira do colapso.

Nesse cenário, o preço da água vendida por fornecedores privados, que seguem operando pequenas estações de dessalinização movidas a energia solar, dobrou desde o dia 7 de outubro. Essa inflação ocorreu quando Israel iniciou bombardeios em Gaza em retaliação a uma ofensiva surpresa realizado pelo Hamas, que ficou conhecida como o “11 de setembro israelense“. Anteriormente, a água custava 30 shekels (R$ 37) nesses locais. Agora, está sendo vendida por 60 shekels (R$ 75).

Menino tira água da cisterna em vilarejo em Gaza (Foto: WikiCommons)

A escassez severa de recursos hídricos em Gaza tem colocado em risco a saúde e o bem-estar da população, tornando-a suscetível a doenças transmitidas pela água devido à insuficiência de acesso a uma quantidade apropriada de abastecimento potável.

A situação gerou um alerta da Oxfam, ONG que luta contra a desigualdade e a pobreza em todo o mundo, juntamente com agências da ONU (Organização das Nações Unidas), que emitiram um aviso de que se os serviços de água e saneamento colapsarem, isso poderá resultar em epidemias de cólera e outras doenças infecciosas fatais, a menos que ajuda humanitária imediata seja fornecida.

Conforme relatado pela Oxfam, o esgoto sem tratamento está sendo despejado no mar, e resíduos sólidos estão se acumulando nas ruas, muitas vezes próximos a corpos que aguardam enterro.

Segundo a ONU, atualmente em Gaza, apenas três litros de água por dia estão disponíveis para cada pessoa, cobrindo todas as suas necessidades, como beber, higiene pessoal, preparação de alimentos e descarga. O ideal é entre 50 e 100 litros diários.

Por conta disso, pessoas ouvidas pela reportagem relataram que cozinham apenas alimentos que consomem menos água e dão descarga em dois momentos do dia: uma vez pela manhã e outra à noite.

Nos hospitais locais, a falta de água é uma ameaça à vida dos pacientes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou em comunicado que a água é fundamental para manter a higiene em enfermarias, salas de cirurgia e departamentos de emergência, prevenindo infecções e surtos. E que a escassez do líquido compromete o atendimento médico e a segurança dos pacientes na região.

Direito à água

As Nações Unidas reconhecem o acesso à água como um direito humano fundamental. O reconhecimento é baseado na Resolução da Assembleia Geral de 2010, que declarou explicitamente que o acesso à água potável e ao saneamento básico é essencial para a realização de todos os direitos humanos. Isso significa que todas as pessoas têm o direito de acesso a água limpa e segura, bem como a instalações sanitárias adequadas.

Philippe Lazzarini, chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, da sigla em inglês) para os palestinos, alertou que a escassez de água em Gaza está colocando vidas em perigo e afetando a saúde das pessoas na região, repercutiu a agência Associated Press.

Segundo a Academia Nacional de Ciência e Medicina dos EUA, para homens, a ingestão diária de água recomendada varia de cerca de 3 a 3,7 litros, o que equivale a aproximadamente 13 a 15,5 copos. Já para as mulheres, a recomendação é de cerca de 2,2 a 2,7 litros, o que corresponde a aproximadamente 9 a 11,5 copos.

Essas recomendações incluem tanto a água proveniente de bebidas quanto a obtida a partir de alimentos, já que muitos alimentos, como frutas e vegetais, contêm água.

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