Facção do Estado Islâmico assume autoria de ataque que pode ter matado 50 no Afeganistão

Atentado da última sexta gerou novas críticas à gestão da segurança no país pelo Taleban, que está no poder desde 2021

O atentado terrorista ocorrido na última sexta-feira (13) em uma mesquita da província de Baghlan, no Afeganistão, foi reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K). Enquanto o Taleban anunciou sete vítimas fatais, em comunicado divulgado logo após o ataque, o grupo extremista responsável disse que há mais de 50 mortos e dezenas de feridos. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

O alvo do EI-K foi uma mesquita xiita na cidade de Pol-e-Khomri. Os xiitas, sobretudo os da minoria dos hazara, têm sido o principal alvo da facção no Afeganistão, o que inclusive levou entidades internacionais, entre elas a ONU (Organização das Nações Unidas), a questionarem a incapacidade do Taleban de gerir a segurança no país desde que chegou ao poder, em agosto de 2021.

Homem-bomba do EI-K no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)

Desta vez, novas críticas surgiram contra os governantes de fato do país. O Conselho de Estudiosos Xiitas afegão cobrou uma ação eficiente para identificar os perpetradores e prendê-los. Já o relator especial da ONU para os direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett, condenou o ataque através de um post na rede social X, antigo Twitter.

“Condeno o ataque de hoje que matou dezenas de fiéis xiitas numa mesquita em Pul-e Khumri, Baghlan, e foi reivindicado pelo EI-K. Minhas condolências às vítimas e suas famílias. Prevenção, proteção e responsabilização são necessárias para o Afeganistão e a população xiita que continua a ser alvo”, disse ele, dando a entender que o grande número de vítimas citado pelo grupo extremista pode estar correto.

Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

Atualmente, a facção do EI é o principal desafio de segurança no Afeganistão. Apesar das críticas à atuação do Taleban no enfrentamento da ameaça, o representante especial dos EUA para o país, Tom West, destacou em setembro deste ano os avanços obtidos na luta contra o EI-K.

“Eles (os talibãs) têm uma ofensiva violenta muito agressiva em andamento que degradou significativamente a capacidade do EI-K”, disse West. “Acho notável que, desde o início de 2023, os ataques talibãs no Afeganistão tenham removido pelo menos oito líderes importantes do EI-K, alguns responsáveis ​​por conspirações externas.”

Devido ao sucesso da ofensiva talibã, os ataques terroristas contra civis no Afeganistão passam por uma “diminuição constante”, segundo o representante. “Houve ataques horríveis, em grande parte contra a população hazara, mas não vimos um regresso a esse tipo de ataques desde então”, afirmou.

Relatório da ONU divulgado em junho seguiu pelo mesmo caminho. O documento destacou na ocasião que o número de mortes de civis sofreu uma considerável redução no Afeganistão desde que o Taleban assumiu o poder no país.

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