A subsecretária-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) para assuntos políticos, Rosemary DiCarlo, afirmou que não houve progresso na implementação da resolução para garantir que as instalações nucleares do Irã fossem usadas apenas para fins pacíficos, em troca do levantamento das sanções impostas pelo Ocidente ao país.
Ela falou aos membros do Conselho de Segurança, na segunda-feira (19), e disse que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que o Irã pretende instalar novas centrífugas em uma de suas usinas de enriquecimento de combustível e planeja produzir mais urânio enriquecido em até 60% de outra instalação.
Segundo a chefe para assuntos políticos, a agência estima que o país tenha agora um estoque total de urânio enriquecido de mais de 18 vezes a quantidade permitida pelo Plano Conjunto de Ação Abrangente (JCPOA, na sigla em inglês).
Rosemary DiCarlo destacou que a capacidade da AIEA de monitorar as instalações nucleares do Irã e garantir que elas sejam usadas para fins exclusivamente pacíficos, elemento central do acordo, está agora comprometida, já que o Irã decidiu remover os equipamentos de vigilância e monitoramento da agência.
Ela pediu ao governo de Teerã que reverta as medidas, tomadas desde julho de 2019, que não são consistentes com seus compromissos nucleares previstos no acordo. DiCarlo também pediu aos Estados Unidos que suspendam ou cancelem suas sanções, conforme descrito no plano, e estendam as isenções relativas ao comércio de petróleo com o Irã.
Opiniões divergentes
Di Carlo mencionou as disposições do Plano relacionadas a mísseis balísticos e, em particular, dois testes de veículos lançadores pelo Irã em junho e novembro deste ano, e um novo míssil balístico revelado pelos iranianos em setembro.
As informações recebidas pela ONU refletem “opiniões divergentes” entre certos Estados-Membros, França, Alemanha, Irã, Israel, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, sobre se esses lançamentos e outras atividades são inconsistentes com a resolução aprovada.
A subsecretária-geral anunciou que a ONU inspecionou peças de mísseis de cruzeiro, apreendidas pela Marinha Real Britânica em águas internacionais ao sul do Irã. Eles avaliaram ser de origem iraniana e se assemelham a peças vistas nos destroços de mísseis de cruzeiro usados pelos membros houthis contra a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos entre 2019 e 2022, e os apreendidos pelos Estados Unidos em 2019.
Veículos aéreos não tripulados
De acordo com DiCarlo, a ONU também recebeu cartas da Ucrânia, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, sobre supostas transferências de veículos aéreos não tripulados (UAVs, na sigla em inglês), os chamados drones, do Irã para a Rússia, também contra a resolução sobre o tema.
Ela afirmou que o embaixador do Irã na ONU negou que seu país tenha fornecido drones para uso no conflito na Ucrânia e que a ONU está examinando as informações disponíveis para apresentar um relatório ao Conselho.
O que é o JCPOA?
O Plano Conjunto de Ação Abrangente, com a sigla em inglês JCPOA, foi assinado em 2015 e estabelece regras para monitorar o programa nuclear do Irã, abrindo o caminho para o fim das sanções da ONU contra o país.
Além do Irã, os cinco membros do Conselho de Segurança, quais sejam China, França, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos, a Alemanha e a União Europeia (UE) também fazem parte do acordo.
Existe uma resolução aprovada no Conselho de Segurança da ONU para garantir a aplicação do JCPOA e conceder acesso regular e informações sobre o programa nuclear do Irã a agência de energia atômica da ONU.
A administração dos Estados Unidos se retirou do acordo em 2018 e voltou a impor sanções. Em julho de 2019, o Irã supostamente violou seu limite de estoque de urânio e anunciou sua intenção de continuar enriquecendo o material, representando um risco de proliferação mais sério. Até o momento, Washington não retornou ao acordo.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News