Taleban proíbe entidades suecas no Afeganistão após queima ‘repugnante’ do Alcorão

Restrição, que pode comprometer a ajuda humanitária no país, continuará válida até que a Suécia se desculpe pelos atos ofensivos

Após a queima de um Alcorão do lado de fora de uma mesquita em Estocolmo no mês passado, os governantes talibãs do Afeganistão emitiram um comunicado na terça-feira (11) proibindo todas as atividades de entidades suecas no país. O incidente da queima do livro sagrado do Islã, realizado por um imigrante iraquiano na Suécia, gerou indignação em países muçulmanos. As informações são da rede Voice of America (VOA).

“O Emirado Islâmico suspende as atividades da Suécia no Afeganistão por conceder permissão para insultar o Alcorão e a fé muçulmana”, justificou o Taleban em sua nota.

Conforme declarado no comunicado, a ordem dos extremistas, que tomaram o governo central em agosto de 2021, suspende as atividades suecas no Afeganistão “até que um pedido de desculpas seja feito aos muçulmanos por esse ato repugnante”. Além disso, o Taleban instou outras nações islâmicas a “reconsiderarem” suas relações com o governo sueco devido a essa ação considerada “blasfema”.

Combatentes talibãs em Cabul, dezembro de 2021 (Foto: WikiCommons)

A medida terá um impacto significativo nas operações de uma ONG sueca chamada Comitê Sueco para o Afeganistão (SCA, na sigla em inglês), que emprega milhares de trabalhadores humanitários em todo o país.

O SCA, uma organização de caridade que opera programas de desenvolvimento, incluindo assistência médica e educação em 18 províncias afegãs, expressou preocupação em relação ao decreto da organização jihadista e está buscando diálogo com as autoridades afegãs para esclarecer se essa proibição também afetará suas operações de ajuda humanitária.

Em 2022, os centros médicos operados pelo SCA atenderam a 2,5 milhões de pacientes nas províncias afegãs de Wardak e Nuristan. Além disso, suas escolas proporcionaram educação a 133 mil crianças, enquanto a organização ofereceu apoio a mais de 20 mil pessoas com deficiência, conforme destacado em comunicado.

Na mesma nota, o grupo condenou enfaticamente qualquer “ato de profanação do Sagrado Alcorão” e repudiou quaisquer tentativas de criar “conflito ou hostilidade com base em crença religiosa, etnia, nacionalidade ou qualquer outra divisão”. O SCA destacou sua longa história de trabalho próximo à população rural do Afeganistão, “sempre respeitando tanto o Islã quanto as tradições locais ao longo de mais de 40 anos de atuação no país”.

Após a queima do Alcorão em Estocolmo, o Ministério das Relações Exteriores da Suécia condenou o ato como “islamofóbico”. No entanto, também destacou os direitos constitucionalmente protegidos, como a liberdade de reunião, expressão e manifestação. A reação ocorreu após a Organização para a Cooperação Islâmica (OIC), sediada na Arábia Saudita, enfatizar a importância de adotar medidas para evitar futuras profanações do livro sagrado.

Desde a aquisição do poder pelo Taleban no Afeganistão há quase dois anos, a Suécia não possui uma embaixada no país do Oriente Médio.

A queima do Alcorão se tornou ato recorrente entre militantes de extrema direita no país escandinavo, sendo associada ao político dinamarquês-sueco radical Rasmus Paludan, que ateou fogo no livro sagrado do Islã do lado de fora da embaixada turca na capital do país em janeiro e gerou um mal-estar diplomático.

População vulnerável

Em dezembro passado, os talibãs já haviam proibido o trabalho de mulheres afegãs em ONGs, levando muitas agências a suspenderem as atividades por falta de mão de obra. No início de abril, a organização jihadista estendeu sua proibição às mulheres que trabalham para a ONU (Organização das Nações Unidas).

Cerca de 23 milhões de pessoas, mais da metade da população do Afeganistão, necessitam atualmente de ajuda humanitária. Sem as mulheres, torna-se praticamente inviável o trabalho das entidades que realizam esse tipo de operação, a ONU inclusive. O que aumenta o drama de afegãos que vivem em condições desesperadoras em meio à profunda crise econômica do país.

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