África Subsaariana é área mais vulnerável à lavagem de dinheiro para financiar terror

Relatório avalia ameaças de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo e a capacidade de cada nação de combater tais crimes

Foi divulgada na segunda-feira (13) a mais recente edição do relatório de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo da ONG suíça Basel Institute of Governance (Instituto de Governança da Basileia, em tradução literal). O documento mostra que a África Subsaariana e o Sul da Ásia são as duas regiões globais mais vulneráveis à lavagem de dinheiro para financiamento de grupos extremistas.

O índice AML (anti-lavagem de dinheiro, da sigla em inglês) é uma classificação independente publicada anualmente desde 2012. O objetivo é avaliar as ameaças de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo em todo o mundo, bem como a capacidade de cada nação de combater tais crimes.

O estudo é baseado em dados públicos de quatro instituições: a FATF (Força-Tarefa de Ação Financeira, na sigla em inglês), que é um órgão intergovernamental; a Transparência Internacional, uma organização global de combate à corrupção; o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial. Na edição atual, o risco médio global aumentou de 5,22 para 5,3, numa escala que vai de 0 a 10.

Chama atenção no relatório o uso de ativos virtuais, como criptomoedas, que explodiu no mundo inteiro tanto para fins legítimos quanto ilícitos. Segundo informações da empresa Chainalysis reproduzidas pelo relatório, as transações em criptomoedas no mundo inteiro totalizaram US$ 21,4 bilhões em 2019. Cerca de 2,1% (US$ 450 milhões) desse montante teve relação com atividades criminosas.

Membros do grupo jihadista Estado islâmico no Grande Saara, que atua sobretudo no Sahel africano (Foto: Divulgação)

Entre as 110 nações listadas no ranking, quem apresenta maior vulnerabilidade à lavagem de dinheiro é o Haiti, com risco médio de 8,49. Na sequência aparecem RD Congo (8,35), Mauritânia (8,13), Mianmar (7,83) e Moçambique (7,71). Já os países com menor vulnerabilidade são, na ordem: Andorra (2,73), Finlândia (3,06), Ilhas Cook (3,13), Eslovênia (3,30) e Noruega (3,35).

Do lado oposto do ranking está a América do Norte, que é a região menos vulnerável, seguida por Europa Ocidental/União Europeia (UE) e, em terceiro, Europa a Oriental/Ásia Central.

O Brasil, por sua vez, não aparece no ranking atualizado porque a avaliação no país é limitada no que tange aos dados da FATF. Isso impede um cálculo atualizado. Considerando o método antigo, o país tem risco médio de 4,98, que o colocaria abaixo do risco médio global de 5,3.

Por que isso importa?

Um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), apresentado em julho deste ano, afirma que o Estado Islâmico (EI) teve recentemente uma considerável perda financeira. O documento cita duas causas: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte do grupo. Ainda assim, estima-se que o EI tenha “recursos significativos”, algo entre US$ 25 milhões e US$ 50 milhões.

A pandemia de Covid-19, por sua vez, contribuiu para reduzir o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas.

Apesar do revés financeiro e do menor número de ataques terroristas, o EI conseguiu se manter relevante. Isso porque os jihadistas se fortaleceram em áreas de conflito, como a África Subsaariana e o sul da Ásia, sobretudo pela ação de grupos afiliados regionais.

“A expansão do EI em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante”, diz relatório enviado em agosto ao Conselho de Segurança pelo que o secretário-geral António Guterres.

E esse crescimento regional pode causar um impacto na segurança global. Conforme as medidas de restrição à circulação são afrouxadas, há uma elevada ameaça de curto prazo de ataques inspirados no EI fora das zonas de conflito. São ações geralmente empreendidas por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados possivelmente online.

Na visão dos Estados-Membros da ONU, o grupo extremista “continuará a priorizar o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios. O grupo continua ativo em amplas áreas da Síria, a fim de recuperar sua capacidade de combate. No Iraque, o EI permanece sob constante pressão, mas realiza operações.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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