Unctad prevê desaceleração e vê economia mundial em ‘conjuntura crítica’

Agência da ONU diz que crescimento econômico deverá cairá de 3% para 2,4% até 2023, com recuperação limitada em 2024

A economia global encontra-se num “conjuntura crítica”, com algumas economias prosperando e se expandindo, enquanto outras vacilam e abrandam, afirmou na quarta-feira (4) o órgão de comércio e desenvolvimento da ONU (Organização das Nações Unidas).

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) informou que o crescimento econômico mundial deverá desacelerar de 3% no ano passado para 2,4% até 2023, com sinais limitados de recuperação em 2024.  

Estes números sublinham a necessidade urgente de reforma do sistema financeiro global, de políticas mais práticas para combater a inflação, a desigualdade e a dívida soberana, bem como uma supervisão reforçada dos mercados críticos.

Rebeca Grynspan, secretária-geral da Unctad, enfatizou a necessidade de evitar erros políticos do passado.  

“Precisamos de uma combinação equilibrada de políticas fiscais, monetárias e de medidas do lado da oferta para alcançar a sustentabilidade financeira, impulsionar o investimento produtivo e criar melhores empregos. A regulamentação precisa abordar o aprofundamento das assimetrias do sistema comercial e financeiro internacional”, disse ela.

Economia dos países em desenvolvimento enfrenta anos de dificuldade (Foto: Andre Taissin/Unsplash)
‘Aterragem suave’ dos EUA

De acordo com a Unctad, a recuperação da economia global da pandemia é marcada por divergências significativas, suscitando preocupações sobre o caminho certo a seguir na ausência de coordenação política.

Nos Estados Unidos, afirma o relatório, apesar do aumento das taxas de juro, a economia desafiou as previsões pessimistas ao experimentar um abrandamento econômico controlado.

Esta “aterrisagem suave” pode ser atribuída a gastos robustos dos consumidores, ao fato de que medidas de austeridade fiscal têm sido evitadas e à intervenção monetária ativa no início do ano.

Ao mesmo tempo, persistem preocupações em matéria de investimento, especialmente devido às elevadas taxas de juro prolongadas, acrescentou o documento.

Imagem mista em outro lugar

Por outro lado, a Europa oscila à beira de uma potencial recessão, enfrentando um rápido aperto da política monetária e fortes ventos econômicos contrários. As principais economias estão abrandando, e a Alemanha já se encontra num estado de contração.

A estagnação ou queda dos salários reais em todo o continente, agravada pela austeridade fiscal, estão travando o crescimento, afirmou a Unctad.

A China, embora mostre sinais de recuperação em relação ao ano passado, enfrenta uma fraca procura do consumidor interno e investimento privado, observou o relatório. No entanto, tem mais espaço de política fiscal em comparação com outras grandes economias, que poderia ser aproveitado para enfrentar estes desafios, acrescentou a agência da ONU.

Uma das principais preocupações é a persistência da desigualdade econômica, especialmente nos países em desenvolvimento, desproporcionalmente afetados pelo aperto monetário nas economias mais avançadas.

Esta crescente disparidade de riqueza representa uma ameaça à frágil recuperação econômica e à consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Crise de desenvolvimento em desdobramento

O fardo da dívida também é grande para muitas nações em desenvolvimento. O aumento das taxas de juro, o enfraquecimento das moedas e o crescimento lento das exportações combinaram-se para comprimir o espaço fiscal para necessidades essenciais, transformando o crescente fardo do serviço da dívida numa crise de desenvolvimento em evolução, alertou a Unctad.

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