Componentes produzidos pelas empresas Huawei e ZTE, da China, serão gradualmente excluídos da rede 5G da Alemanha. A decisão, que faz uma concessão ao governo chinês devido ao prazo amplo, foi anunciada pelo país europeu nesta quinta-feira (11), segundo informações do site Politico.
Duas fontes com conhecimento da decisão, já confirmada pela ministra do Interior Nancy Faeser, afirmaram que o governo alemão estabeleceu que os componentes da rede central sejam excluídos até o fina de 2026, não até o final de 2025, como vinha sendo cogitado.
Uma segunda etapa do processo, esta com prazo até 2029, prevê também a retirada de itens integrados às redes de acesso de rádio (RAN, na sigla em inglês). Mais uma vez, Berlim fez uma concessão a Beijing, vez que o prazo anterior era 2026.

A decisão tende a aliviar as críticas da União Europeia (UE), que há mais de um ano vem pressionando seus membros para que abandonem a tecnologia chinesa. Em junho de 2023, a Comissão Europeia afirmou que “a Huawei e a ZTE representam, de fato, riscos materialmente mais elevados do que outros fornecedores de 5G.”
Na oportunidade, Thierry Breton, comissário europeu de Mercado Interno, criticou a demora de alguns países para adoção de medidas preventivas. “Isso é muito lento e representa um grande risco de segurança e expõe a segurança da União”, disse ele, segundo o Politico. “Não podemos nos dar ao luxo de manter dependências críticas que podem se tornar uma arma contra nossos interesses.”
Ameaça à segurança
Os fornecedores chineses de equipamentos de telecomunicações enfrentam crescente desconfiança global na construção de redes 5G, com sua presença rejeitada em vários países. A Huawei é o principal alvo de suspeitas, com Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido entre os países que baniram a fabricante por medo de que a China possa usá-la para espionagem.
A desconfiança é baseada na suposta proximidade das companhias do setor com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar as gigantes da telefonia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).
Um caso em particular se enquadra nesse cenário. Em janeiro de 2017, a União Africana (UA) descobriu que servidores de sua sede, na capital etíope Adis Abeba, enviavam diariamente, durante a madrugada, dados sigilosos a um servidor na China e que o prédio estava repleto de microfones escondidos. Os servidores foram trocados, mas um problema semelhante se repetiu em 2020, quando os novos foram invadidos por hackers chineses que roubaram vídeos de vigilância das áreas interna e externa.
Não por coincidência, o prédio havia sido construído com financiamento chinês, por uma construtora chinesa. E os servidores originais, aqueles de 2017, eram chineses. Esse episódio, com o qual Beijing nega ter relação, explica a desconfiança generalizada com a infraestrutura digital proveniente da China.
A Huawei no Brasil
No Brasil, o aumento da presença da Huawei na rede de telefonia vai na contramão da tendência global. São da empresa chinesa mais de 80% das antenas que retransmitem sinal das atuais redes 2G, 3G e 4G brasileiras. E, de acordo com conteúdo patrocinado publicado em veículos como O Globo em maio de 2021, a companhia dizia à época ser responsável por mais de cem mil quilômetros de fibra óptica no país.
A alternativa encontrada pelo governo brasileiro para reduzir o impacto de eventuais brechas de segurança foi a criação de uma rede 5G governamental exclusiva, sem a presença de infraestrutura chinesa.
“Hoje, a Huawei não está apta a participar da rede privativa, segundo o que foi colocado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e pela nossa portaria”, disse o ex-ministro das Comunicações Fábio Faria, no início de novembro de 2021, quando foi realizado o leilão das bandas de 5G.