Jihadistas matam quatro integrantes das forças de segurança da Nigéria

Insurgentes do ISWAP armaram uma emboscada e atacaram o comboio que conduzia uma autoridade política local

Extremistas do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental) mataram três policiais e um membro de uma milícia aliada ao governo da Nigéria na quinta-feira (27). O ataque ocorreu no Estado de Borno, região nordeste do país, de acordo com o site The Defense Post.

Os insurgentes armaram uma emboscada e dispararam uma RPG (granada lançada por foguete) contra o comboio que conduzia Asheikh Mamman Gadai, administrador político do distrito de Nganza. O artefato atingiu o veículo que conduzia os seguranças da autoridade.

Dois integrantes da milícia pró-governo que presenciaram o incidente confirmaram as informações e disseram que Mamman Gadai saiu ileso.

Ultimamente, o ISWAP tem intensificado os ataques a viajantes que atravessam a rodovia Mile 40, onde ocorreu a ação de quinta. Eles montam postos de checagem para roubar e assassinar motoristas e realizam também emboscadas contra veículos das forças de segurança.

Os ataques quase diários levaram as autoridades a estabelecer patrulhas militares ao longo da rodovia, mas a violência não foi controlada.

Tropas do exército da Nigéria em ação contra o ISWAP, facção do Estado Islâmico, janeiro de 2022 (Foto: reprodução/Twitter)

Por que isso importa?

Afiliado ao EI, o ISWAP foi formado em 2016 por dissidentes do Boko Haram insatisfeitos com as decisões do ex-líder Abubakar Shekau. Atualmente, se concentra em alvos militares e ataques de alto perfil, inclusive contra trabalhadores humanitários. Os dois grupos jihadistas disputam o controle do estado de Borno, no nordeste da Nigéria. Chegaram a surgir relatos de uma aliança entre as duas organizações rivais, informação jamais confirmada oficialmente.

Desde 2021 o ISWAP adquiriu importância estratégica para o EI, que tem se enfraquecido financeira e militarmente nos últimos anos e, assim, aposta em sua força no continente africano para tentar ressurgir globalmente.

Em 2017, o Iraque anunciou ter derrotado a organização, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho deste ano, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, Iraque e Síria. O documento sugere, ainda, que o grupo teve considerável perda financeira recentemente, devido a dois fatores: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte de seus líderes.

Paralelamente à derrocada do EI, a pandemia de Covid-19 reduziu o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Entretanto, grupos jihadistas têm se fortalecido em zonas de conflito, caso da África Ocidental, o que explica a importância de fortalecer o ISWAP para manter a relevância global.

Em meio aos conflitos que se intensificam no nordeste da Nigéria, estima-se que cerca de 1,74 milhão de crianças menores de cinco anos sofram de desnutrição aguda entre setembro de 2021 e agosto de 2022 na região. Esse número inclui mais de 600 mil casos de desnutrição aguda grave.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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