A postura negacionista do governo do Burundi, na África Oriental, tem alimentado medo e rumores sobre o novo coronavírus, segundo a ONG Human Rights Watch. Também há relatos de problemas à resposta de médicos e enfermeiros durante a crise sanitária.
O Burundi já registrou 144 casos confirmados da doença e apenas uma morte, segundo dados fornecidos à OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta quinta (25).
O número pode ser muito maior. Médicos e especialistas apontam que as autoridades se recusam a realizar testes de diagnóstico ou informar os números reais da Covid-19 no país.
Em tese, há um protocolo determina a realização de cinco mil testes por dia e a criação de uma linha gratuita para hospitais informem casos suspeitos; Na prática, o programa só foi repassado para os médicos em junho, dois meses depois de sua criação. Não está sendo seguido.
Há ainda escassez de equipamentos de proteção nas unidades de saúde. A maneira com que o governo lida com a situação é assunto velado entre os profissionais de saúde. O motivo é o medo de represálias caso critiquem o governo.
Prisões superlotadas
A Human Rights Watch alerta ainda para a superlotação nas prisões do Burundi, que já registram casos de Covid-19. Apesar de alguns prisioneiros precisarem se submeter à quarentena, muitos continuam circulando pelas prisões.
Segundo um relatório da Comissão Independente de Direitos Humanos do Burundi, as penitenciárias estão operando a 273,3% de sua capacidade. Entre os presos há opositores políticos e ativistas de direitos humanos.
Pandemia minimizada
Évariste Ndayishimiye assumiu com dois meses de antecedência a presidência do Burundi, após o ex-presidente Pierre Nkurunziza morrer supostamente de um ataque cardíaco. Foi especulado que o mandatário havia contraído o novo coronavírus.
Durante a cerimônia de posse, sem outros chefes de Estado, Ndayishimiye falou sobre a baixa taxa de transmissão e mortalidade do vírus no país. Também pediu que a população tomasse as medidas “possíveis” de prevenção.
Desde março, altos funcionários do governo, inclusive Ndayishimiye e Nkurunziza, minimizam a capacidade destrutiva do vírus. A campanha eleitoral foi realizada com comícios para milhares de pessoas.
Em maio, o governo considerou como persona non grata o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, dois funcionários da organização e um consultor que apoiam uma resposta de saúde pública ao vírus.