Níger anuncia mortes de ‘terroristas’ e prisão de dezenas de membros do Boko Haram

Insurgentes detidos pelas forças de segurança seriam nigerianos que entraram no país vizinho para levar suprimentos a aliados

As forças de segurança do Níger informaram na quinta-feira (15) que uma operação antiterrorismo realizada nas últimas duas semanas levou à morte de sete “terroristas” e à prisão de cerca de 30 extremistas ligados ao Boko Haram. As informações são do site The New Arab.

As sete mortes teriam ocorrido na cidade de Gueskerou, perto da fronteira com a Nigéria. O governo não especificou a qual facção jihadista os indivíduos mortos estavam associados, apenas os classificou como “terroristas”.

As detenções ocorreram em uma segunda ação dos militares nigerinos, no dia 9 de setembro. Os insurgentes, todos estrangeiros, foram interceptados ao entrar no país com suprimentos que seriam entregues a outros combatentes do Boko Haram.

Embora o governo não tenha dados maiores detalhes sobre os estrangeiros detidos, fontes locais afirmam que todos eles são nigerianos.

Ainda de acordo com as forças de segurança, outros seis supostos membros do Boko Haram foram presos em uma terceira fase da operação na região do Lago Chade, posição estratégica de convergência fronteiriça de quatro países, Níger, Nigéria, Chade e Camarões.

Rebeldes extremistas na região de Tillaberi, no Níger (Foto: Wikimedia Commons)
As derrotas do Boko Haram

Principal facção extremista islâmica da Nigéria, o Boko Haram passou a colecionar derrotas ultimamente, com a neutralização de seus líderes por parte das forças de segurança nigerianas.

Em junho do ano passado, militantes do grupo jihadista gravaram um vídeo no qual confirmaram a morte de Abubakar Shekau, seu notório ex-comandante. Essas derrotas levaram o grupo se movimentar mais e, assim, chegar ao Níger, distante do enfrentamento com o exército nigeriano.

Depois da morte de Shekau, acredita-se que o Boko Haram inclusive se aproximou do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), um antigo rival local. O maior indício de uma aliança é o fato de que muitos ataques contra militares foram realizados por combatentes suspeitos de integrarem ambas as facções.

Por que isso importa?

No Níger, o epicentro da violência é a região de Tillaberi, um dos principais palcos da onda jihadista que tomou o Sahel Central. A violência aprofunda os desafios de segurança enfrentados pelo presidente Mohamed Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021.

Bazoum ocupa o lugar de Mahamadou Issoufou, que esteve à frente do governo desde 2011 e deixou o poder após dois mandatos, na primeira transição presidencial pacífica do país desde a independência da França, em 1960.

O país mais pobre do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), luta contra o alastramento do Boko Haram e do ISWAP, ambos da Nigéria, que avançam sobre o sudeste do país.

De acordo com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA) em Niamey, mais de duas mil pessoas foram deslocadas pela violência no Níger. São sobretudo mulheres e crianças que se deixam suas casas rumo a áreas seguras devido à ameaça de grupos armados.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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