O corte das redes sociais em Uganda, na terça (12), véspera das eleições, cristaliza a tensão política que começou em novembro, início do período eleitoral. Nesta quinta-feira, 18 milhões vão às urnas sob alto risco de conflito no país, localizado na África Oriental.
Os bloqueios às redes são uma resposta à ascensão do líder da oposição e rapper Bobi Wine contra o governo de Yoweri Museveni, há 35 anos no poder.
Com uma robusta campanha online de denúncias contra os abusos, o artista chamou a atenção da comunidade internacional para a perseguição a dissidentes e violência policial sobre manifestantes no pequeno país, de 42 milhões de habitantes.
Ao anunciar o corte das redes pela televisão, Museveni afirmou que reuniu as forças de segurança para defender os ugandenses preocupados com a “intimidação da oposição”. “Não há ameaça que não possamos derrotar”, disse. “Temos todos os meios, simples e complexos”.
Museveni não aceitou que uma equipe de observadores eleitorais da UE (União Europeia) acompanhasse as eleições no país, disse o chefe da diplomacia do bloco, o catalão Josep Borrell.
De acordo com o monitor NetBlocks, o país já bloqueou redes como o Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagram, Skype, Snapchat e Viber, além da loja de aplicativos Google Play Store. Na segunda (11), o Facebook retirou do ar uma rede ligada ao Ministério da Informação de Uganda por usar contas falsas.
“Se querem tomar partido contra o NRM [Movimento de Resistência Nacional], esses grupos não poderão operar em Uganda”, disse o presidente, ao contemporizar o bloqueio das redes. “Uganda não tem escolha”.
Dez candidatos
Ao todo, dez candidatos desafiam o poder de Museveni nas eleições de Uganda. O presidente trouxe alguma estabilidade ao país depois do assassinato dos ditadores Milton Obote (1966-1971 e 1980-1985) e Idi Amin (1971-1979) – o último, conhecido no Ocidente pela brutalidade de sua ditadura. Agora, a população pede mudanças.
A repressão militar deixou 54 mortos em protestos desde a primeira prisão de Bobi Wine, em 3 de novembro. As autoridades do país detiveram o candidato de oposição, carismático e conhecido na periferia da capital Kampala, pelo menos outras três vezes depois.
Nesta terça (12), Wine denunciou que soldados invadiram sua casa na capital ugandense enquanto concedia entrevista a uma emissora do Quênia. Um dos membros de sua equipe teria sido morto a tiros por militares. A polícia nega.
O advogado de Wine, Bruce Afran, baseado nos EUA, afirmou à Associated Press que centenas de funcionários do partido do cantor estão presos. Kampala alega que “estrangeiros trabalham em apoio à oposição”.