Ativistas acusam partidários do governo chinês de agressão durante manifestações nos EUA

Indivíduos a serviço de Beijing teriam usado violência para silenciar protestos antigoverno durante visita do presidente Xi Jinping

Ativistas de causas diversas, todas elas alvo de repressão do governo da China, alegam que autoridades norte-americanas ignoraram pedidos de ajuda para conter agressões de indivíduos a serviço de Beijing em San Francisco, nos EUA, no mês passado. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

Em novembro, o presidente chinês Xi Jinping esteve em San Francisco para a cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês). Aproveitando a ocasião, ativistas uigures, tibetanos e honcongueses organizaram protestos para divulgar os abusos cometidos pela China.

Entretanto, os manifestantes alegam que o Partido Comunista Chinês (PCC) pagou apoiadores na cidade californiana para que perturbassem o movimento e agredissem os participantes, algo que já foi registrado em outros países em situações semelhantes. Embora tenham alertado as autoridades norte-americanas para a violência, os ativistas dizem que nenhuma medida foi adotada.

Xi Jinping durante visita a San Francisco, novembro de 2023 (Foto: twitter.com/SpokespersonCHN)

Anna Kwok, diretora executiva do Conselho para a Democracia de Hong Kong, uma organização sediada em San Francisco, diz que o episódio é um exemplo claro da repressão transnacional do governo chinês e representa uma séria ameaça à liberdade de expressão nos EUA.

“Achei que os Estados Unidos seriam um porto seguro para continuar meu trabalho de defesa de direitos, mas o mês passado provou que estava totalmente errada”, disse ela. “Lamento muito dizer que não me sinto mais segura por estar nos Estados Unidos e não me sinto mais segura para continuar fazendo meu trabalho de defesa de direitos.”

Outros manifestantes fizeram relatos semelhantes, apontando que mais de 20 pessoas teriam sido agredidos por grupos a serviço do PCC. Eles contam que os agressores usaram grandes bandeiras da China tanto para bater nos dissidentes quanto para encobrir as agressões. As bandeiras foram usadas pela polícia como justificativa para não prender ninguém, alegando falta de evidências claras.

“Nunca senti tanta decepção como quando o Departamento de Polícia de San Francisco me disse: ‘Não podemos ir para lá’, e eles realmente impediram a mãe de ir até seu próprio filho”, disse a mãe de um jovem de 15 anos violentamente agredido. “Nunca me senti tão impotente como pessoa tibetano-americana.” 

Segundo Chris Smith, deputado republicano do estado Nova Jersey e copresidente da Comissão Executiva do Congresso para a China, disse, em entrevista coletiva, acreditar que a polícia no local estava agindo sob ordens “de cima”, mas assegurou que uma investigação está em andamento.

“Estas alegações, bem como a falta de resposta do Departamento de Polícia de San Francisco, devem ser investigadas, pois isto marca uma escalada de flagrante repressão transnacional em solo dos Estados Unidos”, disse o político.

Episódios anteriores

O episódio remete a outro registrado em outubro de 2022 em Manchester, na Inglaterra. Na ocasião, um manifestante pró-democracia de Hong Kong foi vítima de agressão enquanto participava de um protesto pacífico do lado de fora do consulado chinês na cidade.

Seis pessoas supostamente envolvidas no caso, entre elas um veterano diplomata chinês, foram retiradas às pressas do Reino Unido por Beijing durante as investigações, impedindo assim que as autoridades locais realizassem eventuais prisões.

Outro episódio de violência registrado em San Francisco um mês antes da visita de Xi Jinping foi a morte de um homem que colidiu com o carro no consulado chinês da cidade. À época, a missão diplomática da China na cidade emitiu um comunicado condenando o incidente e destacando que ele representava uma “séria ameaça” à segurança de seu pessoal e de outras pessoas presentes no local.

De acordo com a agência Associated Press (AP), a vítima foi mais tarde identificada como Zhanyuan Yan. Os policiais alegaram que ele estava armado com uma faca e que teria saído do carro com a arma branca antes de ser alvejado. No carro também foram encontradas uma besta e flechas. A motivação por trás da ação do homem, que tinha nacionalidade chinesa, não ficou clara.

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