Beijing promete retaliação em caso de processo contra cidadãos chineses nos EUA

EUA investiga cientistas chineses por "espionagem industrial"; Beijing ameaça detenção se houver processo

Beijing teria ameaçado prender norte-americanos em seu território caso o governo dos EUA processe pesquisadores chineses presos por suspeita de espionagem, informou neste domingo o jornal “The New York Times”.

Ao menos cinco acadêmicos chineses são acusados de “espionagem industrial” em centros de pesquisa no país e de terem omitido “afiliações militares” ao pedir o visto. Os pesquisadores vindos da China teriam entrado nos EUA em julho e estão sob investigação.

O “The Wall Street Journal” relatou as ameaças no domingo (17), mas o Ministério de Relações Exteriores chinês negou qualquer ofensiva contra pesquisadores dos EUA no país. Washington, no entanto, não duvida da veracidade das ameaças.

Entre ameaças e suspeitas, disputa China-EUA atinge acadêmicos e pesquisadores
Alunos no centro de tecnologia da Universidade de Tsinghua, em Beijing, em outubro de 2017 (Foto: CreativeCommons/Mitch Altman)

“Estamos cientes de que o governo chinês, em outras instâncias, deteve americanos e canadenses sem base legal, como uma forma de exercer pressão sobre seus governos”, disse John Demers, chefe da divisão de Segurança Nacional do Departamento de Justiça dos EUA.

Entre os exemplos estão os jornalistas canadenses Michael Kovrig e Michael Spavor, presos em 2019 na China. A detenção dos repórteres seria uma forma de pressionar Ottawa a liberar a executiva Meng Wanzhou, da Huawei, acusada de crimes financeiros no Canadá.

A intensificação da disputa comercial e tecnológica entre China e EUA já fez com que o governo de Donald Trump solicitasse uma análise detalhada do trabalho de pesquisadores chineses em universidades e outras instituições científicas norte-americanas.

Recrutamento

Os EUA também criticam os programas do governo chinês para recrutar especialistas técnicos e científicos à China.

Em maio, Trump anunciou que impediria estudantes chineses no nível superior ou de pós-graduação a manter ligação com instituições militares caso quisessem entrar nos EUA.

Entre ameaças e suspeitas, disputa China-EUA atinge acadêmicos e pesquisadores
Estudantes chineses do Ensino Médio no curso preparatório para a universidade, em Beijing, em abril de 2019 (Foto: CreativeCommons/Mitch Altman)

O investimento da China ao recrutamento de pesquisadores do exterior é alto. Desde 2008, Beijing investiu em 200 programas de “caça talentos”.

Estima-se que cerca de 60 mil cientistas participaram das seleções, segundo o think tank australiano Strategic Policy Institute. Para os analistas do centro, os países de origem desses pesquisadores terão como grande desafio evitar a fuga de tecnologia para o país asiático.

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