Canadá proíbe três empresas da China de investir no setor de mineração local

Governo local alega que a presença das companhias numa área crucial para o país é uma ameaça à segurança nacional

O governo do Canadá determinou a três empresas chinesas, na quarta-feira (2), que encerrem seus atuais investimentos na mineração de lítio no país da América do Norte. A alegação é a de que a presença das companhias num setor crucial, voltado a fontes de energia limpa, ameaça a segurança nacional, segundo a agência Reuters.

As três empresas vetadas por Ottawa são a Sinomine Rare Metals Resources Co Ltda. e a Chengze Lithium International Ltda., ambas com sede em Hong Kong, e a Zangge Mining Investment Co Ltda., sediada na China continental.

A determinação, de acordo com o governo canadense, foi tomada após um “rigoroso escrutínio” das empresas pelos serviços de inteligência e segurança nacional. As empresas chinesas receberam ordens para vender suas atuais participações em companhias de mineração locais.

Área de mineração em Quebec, no Canadá, em 2006 (Foto: WikiCommons)

“Enquanto o Canadá continua a acolher o investimento estrangeiro direto, agiremos de forma decisiva quando os investimentos ameaçarem nossa segurança nacional e nossas cadeias críticas de fornecimento de minerais, tanto em casa quanto no exterior”, disse em comunicado o ministro da Indústria, François-Philippe Champagne.

Em resposta, o governo chinês acusou Ottawa de usar a segurança nacional como pretexto, dizendo que a medida é uma violação das regras de comércio internacional e de mercado.

Por que isso importa?

A relação entre Ottawa e Beijing teve uma sensível piora desde o início dos casos de Michael Spavor e Michael Kovrig, cidadãos canadenses detidos na China logo após a prisão no Canadá de Meng Wanzhou, executiva da Huawei acusada pelos EUA de espionagem industrial.

O governo canadense alega que seus dois cidadãos foram presos como retaliação, a fim de forçar Ottawa a libertar Meng, contra quem havia um mandado de prisão internacional solicitado pelos EUA. Em setembro do ano passado, a executiva retornou à China, enquanto Spavor e Kovrig voltaram ao Canadá

Também pesa para a crise diplomática o veto imposto pelo Canadá à presença em sua rede 5G das empresas ZTE e Huawei, ambas da China. Além disso, Ottawa tem se aproximado cada vez mais de Taiwan, que Beijing considera parte de seu território. Dessa forma, qualquer relação diplomática direta com a ilha é considerada por Beijing uma agressão à sua integridade territorial.

Diante desse cenário, as trocas de farpas entre os governos chinês e canadense se tornaram frequentes. Inclusive, em maio, o Serviço Canadense de Inteligência de Segurança (CSIS, na sigla em inglês) entregou ao Parlamento local seu relatório de segurança referente ao ano de 2021. O documento destaca, entre outras questões, o aumento da espionagem chinesa no país.

O documento diz que Beijing muitas vezes faz uso de “indivíduos sem treinamento formal em inteligência que possuem conhecimentos relevantes no assunto”. São, por exemplo, cientistas e empresários recrutados por meio de programas de talentos estatais, como viagens patrocinadas e bolsas de estudo internacionais. Nesses casos, os beneficiários são posteriormente usados como espiões.

Outro modelo bastante relevante reportado pelo CSIS é o das campanhas de desinformação, atualmente uma especialidade justamente dos chineses e também da Rússia, aliada de Beijing. Tais manifestações passaram a ser notadas especialmente desde março de 2020, tendo como tema a pandemia de Covid-19.

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