Derrota do governo em votação para reforma constitucional gera colapso na bolsa do Chile

Queda de títulos soberanos do Chile acompanhou anúncio da vitória de independentes em 65 das 155 cadeiras da comissão

A derrota dos partidos tradicionais na votação que escolheu a comissão constituinte que reformará a Constituição do Chile, no domingo (16), forçou a desvalorização dos pesos chilenos e empurrou a bolsa de Santiago para o colapso.

Logo no início desta segunda-feira, os principais títulos soberanos do país caíram quase 10%. O peso chileno emergiu como a moeda de pior desempenho entre as emergentes, apontou a Bloomberg. A cifra caiu 3,3% em relação ao dólar norte-americano, muito à frente da rúpia indonésia (0,6%) e do won sul-coreano (0,53%).

Na votação de sábado e domingo, os cidadãos chilenos deviam escolher os futuros vereadores, prefeitos e governadores regionais, além dos 155 representantes que terão a missão de redigir a nova constituição. A votação mostrou o avanço dos partidos independentes – a maioria na comissão constituinte.

Derrota do governo em votação para reforma constitucional gera colapso na bolsa do Chile
Protestos no Chile, em 2019, contra o governo de Sebastián Piñera (Foto: Wikimedia Commons)

Os partidos independentes conquistaram 65 assentos da comissão. Já a lista “Vamos por Chile”, que reunia as siglas governistas de direita, obteve 37 cadeiras. O resultado afasta a possibilidade de o governo de Sebastián Piñera obter um terço do grupo.

Já a lista “Aprovo a Dignidade”, formada por partidos tradicionais de esquerda, somou apenas 34% dos votos e deve integrar a comissão com 53 cadeiras – um resultado acima do esperado, confirmou o portal Mercopress. Os indígenas contam com 17 assentos reservados na constituinte.

A participação na votação, porém, não foi expressiva. Apenas 37% dos 14,9 milhões de eleitores chilenos foram às urnas – bem abaixo dos 50,9% que concordaram com a reforma da Constituição no plebiscito de outubro de 2020.

“Incerteza”, alerta JP Morgan

Analistas da financeira JP Morgan apontaram que a derrota dos partidos tradicionais na comissão constituinte do Chile sugere “maior incerteza” à frente, registrou o portal argentino Infobae. O motivo está na perda do “peso absoluto” dos partidos que, no poder, “defendem o modelo atual”.

Para a maior parte da população, a atual Constituição aprofunda a desigualdade do Chile, já que atribui o controle da saúde, habitação, educação e aposentadoria ao setor privado.

Com o processo, o Chile inicia a caminhada para deixar a atual Carta Magna para trás. O texto, que traz marcas da ditadura, foi elaborado durante o regime militar do general Augusto Pinochet, entre 1973 e 1990.

A mudança era uma das principais reivindicações dos protestos realizados em todo o país em novembro de 2019. Com milhões nas ruas, mais de 30 pessoas morreram nas manifestações, em confrontos com a polícia. A partir da votação, os representantes têm nove meses para elaborar a nova constituição.

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