A derrota dos partidos tradicionais na votação que escolheu a comissão constituinte que reformará a Constituição do Chile, no domingo (16), forçou a desvalorização dos pesos chilenos e empurrou a bolsa de Santiago para o colapso.
Logo no início desta segunda-feira, os principais títulos soberanos do país caíram quase 10%. O peso chileno emergiu como a moeda de pior desempenho entre as emergentes, apontou a Bloomberg. A cifra caiu 3,3% em relação ao dólar norte-americano, muito à frente da rúpia indonésia (0,6%) e do won sul-coreano (0,53%).
Na votação de sábado e domingo, os cidadãos chilenos deviam escolher os futuros vereadores, prefeitos e governadores regionais, além dos 155 representantes que terão a missão de redigir a nova constituição. A votação mostrou o avanço dos partidos independentes – a maioria na comissão constituinte.
Os partidos independentes conquistaram 65 assentos da comissão. Já a lista “Vamos por Chile”, que reunia as siglas governistas de direita, obteve 37 cadeiras. O resultado afasta a possibilidade de o governo de Sebastián Piñera obter um terço do grupo.
Já a lista “Aprovo a Dignidade”, formada por partidos tradicionais de esquerda, somou apenas 34% dos votos e deve integrar a comissão com 53 cadeiras – um resultado acima do esperado, confirmou o portal Mercopress. Os indígenas contam com 17 assentos reservados na constituinte.
A participação na votação, porém, não foi expressiva. Apenas 37% dos 14,9 milhões de eleitores chilenos foram às urnas – bem abaixo dos 50,9% que concordaram com a reforma da Constituição no plebiscito de outubro de 2020.
“Incerteza”, alerta JP Morgan
Analistas da financeira JP Morgan apontaram que a derrota dos partidos tradicionais na comissão constituinte do Chile sugere “maior incerteza” à frente, registrou o portal argentino Infobae. O motivo está na perda do “peso absoluto” dos partidos que, no poder, “defendem o modelo atual”.
Para a maior parte da população, a atual Constituição aprofunda a desigualdade do Chile, já que atribui o controle da saúde, habitação, educação e aposentadoria ao setor privado.
Com o processo, o Chile inicia a caminhada para deixar a atual Carta Magna para trás. O texto, que traz marcas da ditadura, foi elaborado durante o regime militar do general Augusto Pinochet, entre 1973 e 1990.
A mudança era uma das principais reivindicações dos protestos realizados em todo o país em novembro de 2019. Com milhões nas ruas, mais de 30 pessoas morreram nas manifestações, em confrontos com a polícia. A partir da votação, os representantes têm nove meses para elaborar a nova constituição.