A instituição financeira HSBC lucrou durante quase 20 anos com um esquema criminoso internacional que movimentou mais de US$ 2 trilhões. O mecanismo foi denunciado nesta segunda (21) após uma investigação de 16 meses do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, BuzzFeed News e outros 108 meios de comunicação ao redor do mundo.
Em documentos vazados, a reportagem pôde comprovar que o banco oferecia serviços financeiros e se beneficiava com o esquema criminoso mesmo após ter sido condenado por servir a cartéis de drogas e assassinos, em 2012.
A promotores dos Estados Unidos, o banco assumiu que ajudava a dar vazão para o dinheiro sujo por meio de filiais ao redor do mundo.
O esquema continuou mesmo durante a liberdade condicional da empresa, sob o escrutínio do ex-promotor de crimes financeiros de Nova York, Michael Charkasky.
O HSBC foi condenado a pagar US$ 1,92 bilhão e permanecer durante cinco anos em liberdade condicional para monitoramento de lavagem de dinheiro.
A filial e antiga sede do banco em Hong Kong era a mais lucrativa e foi crucial para manter o esquema, conferiu a reportagem. Mesmo os relatórios parciais apontam que 16 empresas de fachada processaram quase US$ 1,5 bilhão em mais de 6,8 mil transações entre 2013 e 2017.
Do valor, mais de US$ 900 milhões envolviam empresas ligadas a redes criminosas. Dezenas de relatórios, clientes e ex-funcionários contribuíram para a investigação.
Lavagem de dinheiro e cartéis mexicanos
Um dos episódios mais emblemáticos do esquema criminoso do banco envolve os cartéis mexicanos e a guerra às drogas dos anos 2000. Na época, o banco fornecia “contas especiais” em dólares para as gangues do narcotráfico.
A ideia era lavar centenas de milhões de dólares em receitas com drogas, revela a investigação. Para evitar suspeitas, os cartéris projetaram caixas eletrônicos com formatos especiais para entregar quantias exorbitantes de dinheiro ilícito.
Desde 2010, o HSBC é instado a impulsionar o combate à lavagem de dinheiro em seus controles internos e responsabilizar os envolvidos em crimes financeiros.
Questionado pela reportagem, o banco afirmou que realizou todas as mudanças necessárias. “Embora tenhamos feito melhorias significativas em nosso programa de conformidade de crimes financeiros, estamos buscando continuamente maneiras de melhorar”, disse a porta-voz Heidi Ashley.
Além do HSBC, a reportagem também menciona outros bancos envolvidos no esquema, como o Standard Chartered, Barclays, Deutsche Bank, Commerzbank, JPMorgan Chase e Bank of New York Mellon.