Escalada de tensão leva Washington a ampliar sua presença militar no Golfo Pérsico

Apreensão de navios comerciais e retomada do projeto nuclear do Irã levam os militares dos EUA de volta ao Oriente Médio

Nos últimos meses, o governo norte-americano tem aumentado sua presença militar no Golfo Pérsico, com um porta-aviões, milhares de soldados e aeronaves deslocados para a região. A escalada de tensão é um desdobramento do conflito entre EUA e Irã, que piora gradualmente e registrou inclusive um quase confronto entre as marinhas dos dois países. As informações são da agência Associated Press (AP).

Washington deslocou ao Golfo Pérsico o porta-aviões USS Bataan e o navio de desembarque USS Carter Hall, que deixaram o território norte-americano em 10 de julho. As embarcações, juntas, têm capacidade para transportar milhares de tropas, bem como jatos de guerra, como os caças furtivos F-35.

Havia quase dois anos que os EUA não mantinham presença militar dessa magnitude no Golfo Pérsico, sinal de que o ambiente se deteriorou bastante de lá para cá.

Navio norte-americano durante exercício no Mar da China Meridional, no dia 6 de julho de 2020 (Foto: Marinha dos EUA/Flickr)

Outro indício de que a crise entre Washington e Teerã está perto do limite foram os recentes episódios de petroleiros apreendidos pelas forças armadas iranianas. No início de junho, navios das marinhas dos dois países quase entraram em confronto no Estreito de Ormuz, uma via navegável estratégica que liga o Golfo Pérsico ao oceano.

Na ocasião, uma embarcação militar norte-americana agiu para impedir o Irã de apreender dois petroleiros interceptados pela Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), que chegou a disparar tiros contra um dos navios comerciais.

Situações do gênero já se tornaram corriqueiras, com relatos da marinha dos EUA de que ao menos cinco navios foram apreendidos pelo Irã nos últimos anos, com mais uma dúzia de embarcações tendo escapado depois de serem assediadas.

As ações contra petroleiros, uma resposta do Irã às sanções que por vezes levam as nações ocidentais a apreenderem navios com petróleo bruto iraniano, fizeram com que os Estados Unidos retomassem o patrulhamento de Ormuz, de onde o último porta-aviões norte-americano havia sido retirado em 2020.

Agora, de acordo com o Pentágono, a presença militar na região será retomada “em resposta às recentes tentativas do Irã de ameaçar o livre fluxo de comércio no Estreito de Ormuz e suas águas circundantes.”

A questão nuclear

Também ajuda a explicar a preocupação crescente dos EUA o fato de o Irã ter se retirado do acordo nuclear de 2015, aumentando as especulações de que o país do Oriente Médio tenha voltado a trabalhar para produzir armas nucleares.

Em janeiro deste ano, Rafael Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), alertou que Teerã tem material suficiente para construir “várias armas nucleares”. Desde 2021 têm se acumulado indícios de que o país amplia seu estoque de material atômico, visando à produção de mais urânio enriquecido a 60%.

União Europeia (UE) chegou a intermediar negociações entre Washington e Teerã para restabelecer o acordo, que interromperia o projeto militar iraniano. As conversas, porém, foram abandonadas em meio aos protestos populares que tomaram as ruas do Irã desde setembro de 2022, após a morte da jovem Mahsa Amini.

Resposta iraniana

Teerã não se acovardou ante à demonstração de força norte-americana. Em junho, o país apresentou o míssil hipersônico Fattah, que no futuro pode ter o alcance ampliado a ponto de atingir Israel, importante aliado norte-americano no Oriente Médio. O Irã conta ainda com o míssil de cruzeiro Abu Mahdi, que pode ser usado para atingir navios no mar a até mil quilômetros de distância.

Nesta semana, o país árabe também realizou manobras militares em ilhas do Golfo Pérsico. Embarcações pequenas e velozes da IRGC foram usadas nos exercícios, que não estavam programados e pegaram as nações ocidentais de surpresa.

“Buscamos sempre segurança e tranquilidade. É o nosso jeito”, disse o chefe da IRGC, general Hossein Salami, em um discurso televisionado cujo conteúdo foi reproduzido pela AP. “Nossa nação está vigilante e dá respostas duras a todas as ameaças, sedições complicadas e cenários secretos e hostilidades.”

Em sua fala, o militar enviou um recado a Washington, refletindo a posição iraniana sobre a presença crescente do inimigo no Golfo Pérsico. “Não há absolutamente nenhuma necessidade da presença dos EUA ou de seus aliados europeus ou não europeus na região.”

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