EUA adicionam três indivíduos que vivem no Brasil à lista de terroristas globais

Os homens, residentes no Brasil, são acusados de dar suporte à Al-Qaeda, e um deles teria mantido contato com um importante terrorista internacional

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou, na quarta-feira (22), a inclusão de três indivíduos que vivem no Brasil, bem como de duas empresas que pertencem a eles, na lista de Terroristas Globais Especialmente Designados. Eles são acusados de ligação com a Al-Qaeda, e a presença na lista acarreta no bloqueio de bens que eles eventualmente possuam nos EUA, inclusive contas bancárias.

“As atividades desta rede baseada no Brasil demonstram que a Al-Qaeda continua sendo uma ameaça terrorista global generalizada, e as designações de hoje ajudarão a negar o acesso do grupo ao sistema financeiro formal”, disse o subsecretário do Tesouro Brian E. Nelson. “Os Estados Unidos estão empenhados em trabalhar com nossos parceiros estrangeiros, incluindo o Brasil, para desmantelar as redes de apoio financeiro da Al-Qaeda”.

Haytham Ahmad Shukri Ahmad Al-Maghrabi, que vive no Brasil desde 2015, é acusado de ser “um dos membros iniciais de uma das redes da Al-Qaeda” no país e de ter “auxiliado materialmente, patrocinado ou fornecido apoio financeiro ou tecnológico, ou bens ou serviços para apoiar a Al Qaeda”.

Polícia Federal brasileira: Al-Qaeda teria célula estabelecida no Brasil (Foto: divulgação)

Al-Maghrabi teria sido o contato brasileiro de Ahmed Mohammed Hamed Ali, designado como terrorista por Washington em 2012 e acusado de envolvimento nos atentados contra as Embaixadas dos EUA na Tanzânia e no Quênia. Ali foi morto em 2010, no Paquistão, num ataque de drone do exército norte-americano.

Mohamed Sherif Mohamed Awadd, que vive no Brasil desde 2018, é acusado de receber transferências bancárias de outros associados da Al-Qaeda no país. “Até o final de 2018, Awadd desempenhou um papel significativo em um grupo afiliado à Al Qaeda, sediado no Brasil, e estava envolvido na impressão de moeda falsa”, diz o documento do Tesouro. Também foi sancionada uma empresa pertencente a ele, a Home Elegance Comércio de Móveis EIRELI, uma loja de móveis estabelecida de 2018 na cidade de Guarulhos.

O terceiro indivíduo sancionado é Ahmad Al-Khatib, igualmente acusado de dar suporte à Al-Qaeda. Uma empresa estabelecida desde 2019 em nome dele, a Enterprise Comércio de Móveis e Intermediação de Negócios EIRELI, também de Guarulhos, foi igualmente adicionada à lista de sanções.

“A Al-Qaeda continua a representar uma ameaça para os Estados Unidos e outras nações em todo o mundo”, explica o documento do Tesouro. “Como a Al-Qaeda gera quase todas as suas receitas fora dos Estados Unidos, o governo dos EUA tem utilizado agressivamente ferramentas financeiras para limitar os fluxos de financiamento da Al-Qaeda em todo o mundo“.

Por que isso importa?

Ações antiterrorismo globais têm enfraquecido os dois principais grupos terroristas do mundo, o Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda. Já a pandemia de Covid-19 fez cair o número de ataques em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Na tentativa de manter a relevância, as organizações jihadistas têm investido em zonas de conflito, como o continente africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global, conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.

O EI, em particular, se enfraqueceu militar e financeiramente, vitimado pela má gestão de fundos por parte de seus líderes e sufocado pelas sanções econômicas internacionais. Porém, a organização ganhou sobrevida graças ao poder de recrutar seguidores online. Atualmente, as ações do EI são empreendidas quase sempre por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.

Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que o EI dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.

Assim, o principal reduto tanto do EI quanto da Al-Qaeda tornou-se o continente africano, onde conseguem se manter relevante graças à ação de grupos afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em muitas regiões da África é alarmante e pode marcar a retomada de força global dessas duas organizações, algo que em determinado momento tende refletir em regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de ataques terroristas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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