EUA avaliam sancionar chinesa Hikvision, acusada de violar direitos humanos

Empresa é acusada de fornecer equipamentos que facilitam a repressão dos uigures na região de Xinjiang, na China

Os Estados Unidos estão preparando duras sanções contra a Hikvision, fabricante chinesa de câmeras de vigilância. A informação foi divulgada na quarta-feira (4) pelo jornal Financial Times e reproduzida pelo britânico Evening Standart.

A penalidade avaliada por Washington tem como justificativa uma suposta violação de direitos humanos, já que a empresa é acusada de fornecer equipamentos que facilitam a detenção de uigures na região de Xinjiang.

A medida, imposta pelo Departamento do Tesouro dos EUA, teria implicações de longo alcance, já que mais de mil cidades em todo o mundo usam os produtos da Hikvision.

Sistema de vigilância da Hikvision (Foto: Chris Yarzab/Flickr)

Segundo Sophie Richardson, diretora da ONG Human Rights Watch na China, o mundo deve ficar atento a países com histórico de repressão estatal e seus sistemas de videomonitoramento.

“Há muito tempo pedimos que as tecnologias de vigilância sejam regulamentadas para que não sejam implantadas por governos abusivos. Nossa pesquisa mostra que a repressão aprimorada pela tecnologia de Beijing se estende tanto dentro quanto fora da China”, disse.

Autoridades de segurança nacional dos EUA também suspeitam que o equipamento da empresa seja utilizado com fins de espionagem.

O Reino Unido igualmente alimenta desconfianças em relação à Hikvision. Em abril, o comissário de biometria e câmeras de vigilância britânico, Fraser Sampson, solicitou à empresa que detalhasse seu envolvimento nos abusos de direitos humanos contra a minoria étnica muçulmana na China. A autoridade também pediu que o governo prestasse esclarecimentos sobre a compra de equipamentos de vigilância.

A fabricante chinesa já havia sido impedida de vender tecnologia nos EUA pelo ex-presidente Donald Trump. Em 2021, Joe Biden adicionou a Hikvision à lista de empresas do complexo industrial militar chinês, o que impede os americanos de investir nela.

Outra companhia chinesa que enfrenta crescente desconfiança é a Huawei, que está empenhada na construção de redes 5G em todo o mundo e já teve a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia, EUA e Reino Unido baniram a infraestrutura da companhia por medo de que ela seja usada para espionagem.

Autoritarismo para exportação

Artigo publicado no site especializado em cibersegurança Dark Reading aponta que a China vem exportando cada vez mais “não apenas sua tecnologia, mas os valores autoritários que ela sustenta”. O fenômeno é definido como “tecnoautoritarismo”

Ouvido pelo veículo, Keith Krach, ex-subsecretário de Estado para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do governo Trump, disse que tal disseminação precisa ser contida antes que se espalhe por todo o planeta.

“A China está essencialmente exportando uma ‘ditadura em uma caixa’ quando envia suas ferramentas de vigilância para o exterior. Estas são ferramentas que o pior dos ditadores só poderia ter sonhado. E é isso que permite o genocídio: todo o Estado de vigilância. Literalmente, controle do pensamento”, disse em entrevista.

Por que isso importa?

Na província chinesa de Xinjiang, tecnologias diversas têm sido usadas como parte de um sofisticado sistema de vigilância contra a minoria étnica dos uiguires. O aparato estatal, classificado como abuso dos direitos humanos por Estados e organismos intergovernamentais, levou Washington a impor seguidas sanções econômicas a empresas acusadas de associação com o projeto chinês.

A comunidade uigur, que habita Xinjiang, tem cerca de 11 milhões de pessoas e enfrenta discriminação da sociedade e do governo chinês, vista com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. .

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirma que o trabalho forçado uigur é “a maior mentira do século”. “Os Estados Unidos tanto criam mentiras quanto tomam ações flagrantes com base em suas mentiras para violar as regras do comércio internacional e os princípios da economia de mercado”, disse ele.

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