EUA dizem ter matado quase 700 membros do Estado Islâmico em 2022 no Iraque e na Síria

Mais de 460 extremistas foram mortos na Síria, segundo as forças armadas norte-americanas, e os demais no Iraque

A campanha de contraterrorismo dos EUA levou à morte de ao menos 686 membros do Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria neste ano. Os números foram divulgados nesta sexta-feira (30) pelo Comando Central (CENTCOM) das forças armadas norte-americanas.

Foram 108 operações conjuntas realizadas por forças norte-americanas e locais na Síria, com 466 mortos, e 191 no Iraque, com ao menos 220 mortos. Houve ainda outras 14 missões unilaterais das tropas dos EUA. Além dos mortos, 374 extremistas foram presos.

O general Michael Kurilla, comandante do CENTCOM, destacou o apoio das forças armadas do Iraque e das Forças Democráticas Sírias (FDS), uma milícia curda aliada a Washington que atua no combate ao EI no território sírio. “Hoje, eles demonstram alto nível de competência, profissionalismo e progresso na liderança de operações táticas, mas ainda há muito trabalho a ser feito”, afirmou o oficial.

No comunicado, as forças norte-americanas dizem que as operações de contraterrorismo continuarão em 2023, novamente em parceria com as forças do Iraque da Síria.

“A capacidade emergente, confiável e estável de nossas forças parceiras iraquianas e sírias de conduzir operações unilaterais para capturar e matar líderes do EI nos permite manter uma pressão constante sobre a rede do EI”, disse o major-general Matt McFarlane, o principal comandante da Operação Inherent Resolve, uma coalizão liderada pelos EUA para derrotar o EI.

O CENTCOM destacou que um importante foco do combate ao terrorismo são campos de detenção e prisões que guardam terroristas ou familiares de membros do EI.

Um caso é o de Al-Hol, maior campo de refugiados e deslocados internos na Síria, com cerca de 55 mil pessoas, sendo mais de 80% mulheres e crianças. Outro é o da prisão síria de Al-Hasakah, onde houve uma tentativa de fuga em janeiro deste ano que terminou com mais de 400 insurgentes mortos.

“Existem, hoje, mais de dez mil líderes e combatentes do EI em centros de detenção em toda a Síria e mais de 20 mil líderes e combatentes do EI em centros de detenção no Iraque”, diz o comunicado, que cita ainda as 25 mil crianças que vivem em locais como esses.

“Essas crianças no acampamento são os principais alvos da radicalização do EI. A comunidade internacional deve trabalhar em conjunto para retirar essas crianças desse ambiente, repatriando-as para seus países ou comunidades de origem e melhorando as condições no campo”, afirma o CENTCOM.

Militares norte-americanos em treinamento (Foto: reprodução/Facebook)
Por que isso importa?

Embora ainda seja relevante no cenário extremista global, o EI tem se enfraquecido financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

Em fevereiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. Já o sucessor dele, Abu al-Hassan al-Hashemi al-Qurashi, foi morto em novembro, segundo anunciou o próprio grupo.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

No Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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