EUA prendem jovem que preparava ataque contra igrejas em nome do Estado Islâmico

Norte-americano de 18 anos usaria um cano de metal, uma faca e latas com material explosivo para matar fieis a esmo, mas foi detido antes de agir

As autoridades norte-americanas prenderam no último sábado (6) um jovem de 18 anos, identificado como Alexander Scott Mercurio, que pretendia atacar uma igreja em nome do Estado Islâmico (EI). Ele foi monitorado durante meses pelo FBI, a polícia federal dos EUA, e preso após confessar seu plano a um informante disfarçado, segundo o Departamento de Justiça.

“O réu fez um juramento de lealdade ao EI e planejou realizar um ataque em seu nome às igrejas em Coeur d’Alene, Idaho”, disse o procurador-geral Merrick B. Garland. “Graças aos esforços investigativos do FBI, o réu foi levado sob custódia antes que pudesse agir e agora é acusado de tentar apoiar a missão de terror e violência do EI.”

O jovem foi formalmente acusado de de tentar fornecer apoio material ou recursos a uma organização terrorista estrangeira designada. Se condenado, enfrentará pena máxima de 20 anos em prisão federal.

De acordo com o jornal The Washington Post, Mercurio relatou seu plano a um homem durante uma conversa em um hotel, sem saber que se tratava de um informante do FBI. O objetivo dele era atacar fieis de igrejas da região onde morava, usando para tal um cano de metal, uma faca e pequenas latas explosivas de gás butano.

Ele disse, ainda, que tentaria roubar uma arma da polícia e então mataria o máximo possível de pessoas antes de morrer por suicídio ou em confronto com a polícia.

Agentes de combate ao terrorismo do FBI (Foto: Facebook/FBI)

Os EUA e os países europeus têm aumentado o alerta para ações terroristas desde que o  Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) realizou um ataque com 145 vítimas fatais em Moscou, no dia 22 de março. O grupo, proveniente do Afeganistão, é a mais violenta facção do EI e cada vez mais mostra ter condições de agir também no ocidente.

Em entrevista à rede Fox News publicada na semana passada, o general aposentado Frank McKenzie, ex-chefe do Comando Central (Centcom) das Forças Armadas norte-americanas, afirmou que a ameaça o grupo “está crescendo” e que as forças de segurança devem “esperar novas tentativas desta natureza contra o Estados Unidos, bem como contra os nossos parceiros e outras nações no exterior.”

A presença de extremistas ligados ao EI-K no Ocidente é real, com casos semelhantes ao de Alex Mercurio. Em dezembro de 2023, autoridades norte-americanas anunciaram a prisão de um adolescente de 17 anos que tentava embarcar em um voo com o objetivo de se juntar ao grupo no Afeganistão.

Na Europa, desde o ano passado, ao menos cinco países conseguiram impedir ataques da organização. Segundo o site independente russo Important Stories, Alemanha, Áustria, Espanha, França e Holanda fizeram bom uso de seus serviços de inteligência e conseguiram agir a tempo de evitar mortes.

Por que isso importa?

O Estado Islâmico (EI) passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz o relatório, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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