A indústria de defesa da Austrália vem aumentando a produção de mísseis, tanto para fortalecer as defesas do próprio país quanto para entregar armamento a aliados. O governo local citou “preocupações significativas” com a China ao justificar a decisão. As informações são da agência Reuters.
A medida adotada pelos australianos está inserida no cenário mais amplo de uma corrida armamentista no Indo-Pacífico, conforme Beijing aumenta o investimento em seu Exército de Libertação Popular (ELP) e amplia as reivindicações territoriais na região.
Ao justificar sua preocupação com o vizinho, Camberra citou como exemplo o recente teste de um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) por parte da China em 25 de setembro.
Na ocasião, a agência estatal de notícias Xinhua disse que o disparo serviu para “testar efetivamente o desempenho das armas e equipamentos e o nível de treinamento das tropas” e que ele “atingiu o objetivo esperado”.

“Por que precisamos de mais mísseis? A competição estratégica entre os Estados Unidos e a China é uma característica primária do ambiente de segurança da Austrália”, disse o ministro da Indústria de Defesa australiano Pat Conroy. Ainda segundo ele, a região do Indo-Pacífico vive hoje uma “era dos mísseis”, com os artefatos servindo de “ferramentas de coerção”.
Ao comentar o recente lançamento chinês, destacou a capacidade nuclear do armamento e manifestou “grande preocupação” com o aumento do arsenal de destruição em massa chinês. Além de fabricar mais mísseis, Conroy afirmou que o país também está focado em adquirir esse tipo de armas de terceiros.
“Devemos mostrar aos potenciais adversários que atos hostis contra a Austrália não teriam sucesso e não poderiam ser sustentados se o conflito fosse prolongado”, afirmou o ministro.
Por que isso importa?
A relação cordial entre China e Austrália, que era cordial, vem deteriorando desde 2018, quando Camberra proibiu a Huawei em sua rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. A situação piorou em 2020, quando os australianos cobraram uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira dos chineses.
Um documento de 14 páginas vazado de forma deliberada pela Embaixada da China na Austrália, em novembro de 2020, já apontava a grave deterioração nas relações entre os dois países. Nele, Beijing acusava o então primeiro-ministro Scott Morrison de “envenenar as relações bilaterais”.
A carta ainda culpava Camberra pelos relatórios “hostis e antagônicos” sobre a China na mídia australiana independente e pelos ataques ao acordo da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative) no estado de Victoria, onde fica Melbourne.
Atualmente, porém, as relações têm melhorado, sobretudo após a eleição do Partido Trabalhista de centro-esquerda de Albanese, após nove anos de governo conservador. Nesse novo cenário, Beijing eliminou diversas barreiras comerciais, tanto oficiais quanto não oficiais, que afetavam as exportações australianas.
No campo da segurança, entretanto, pesa mais a aliança da Austrália com os EUA, o que coloca Beijing e Camberra em polos diferentes.