China aproveita pandemia para campanha de ‘reescrita’ do Islã e do Cristianismo

Beijing retomou o plano de "reescrever" clássicos religiosos, como a Bíblia e o Alcorão, dizem relatórios

O avanço da Covid-19 se tornou um álibi para o governo chinês reiniciar uma campanha contra religiões como o Cristianismo e o Islã. De acordo com o jornal norte-americano “The Wall Street Journal”, Beijing retomou um plano de “reescrever clássicos religiosos”, como a Bíblia e o Alcorão.

Jornais de todo o mundo anunciaram a medida de “adaptação aos valores socialistas” em dezembro do ano passado. A ordem vem de uma reunião do Comitê para Assuntos Étnicos e Religiosos do órgão consultivo do governo chinês.

Os primeiros registros do vírus, na madrugada de 1 de janeiro, no entanto, ofuscaram a decisão. À época, o órgão decidiu que um grupo de 16 especialistas de diferentes religiões participaria da conferência para “reescrever” as obras.

Sob a sombra da Covid-19, China aperta o cerco contra Islã e Cristianismo
Celebração católica em templo de Xangai, China, em janeiro de 2020 (Foto: Flickr/John Ragai)

Todo material contrário às crenças do Partido Comunista Chinês deve ser removido, apontou o britânico “Daily Mail”. Além disso, o grupo deverá alterar ou “retraduzir” parágrafos considerados “errados” pelos censores.

“Pedimos uma avaliação abrangente dos clássicos religiosos existentes visando conteúdos que não estão em conformidade com o progresso dos tempos”, disse o presidente do comitê, Wang Yang.

Desde junho, as autoridades chinesas proibiram os serviços religiosos online e há registro de remoção de cruzes de duas igrejas na província de Anhui, ao leste do país.

Apagamento

A medida acerta em cheio a província de Xinjiang, marcada pela perseguição à minoria étnica muçulmana uigur. Há relatos de prisão arbitrária, abusos e trabalho forçado nesses locais, que se multiplicaram desde 2016.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures já passou pelos campos. As violações de todos os tipos já atingem até três milhões de uigures, de uma população de 12 milhões.

As sanções a minorias étnicas não são isoladas na China. Em setembro, a população da província da Mongólia Interior saiu às ruas para protestar contra a nova política de Beijing para reduzir o ensino da língua mongol nas escolas.

O objetivo da China é substituir aos poucos o mongol pelo mandarim em três matérias no ensino fundamental e médio da região, ao norte do país. Apesar de haver parcelas da população de filiação islâmica e cristã na China, predominam ali as religiões budista, confucionista e taoísta.

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