China é primeiro país a nomear embaixador no Afeganistão sob o governo do Taleban

Apesar da nomeação, os talibãs ainda não receberam reconhecimento oficial da China como governantes de direito do país

Nesta quarta-feira (13), o recém-nomeado embaixador chinês no Afeganistão, Zhao Sheng, apresentou suas credenciais ao primeiro-ministro talibã Mullah Hassan Akhund, na capital Cabul. O ato estabeleceu a China como o primeiro país a firmar relações diplomáticas com os afegãos após a ascensão do grupo islâmico, que derrubou o governo civil em agosto de 2021. As informações são da agência Reuters.

Durante a cerimônia, Sheng expressou satisfação com sua missão no Afeganistão, destacando a importância do posto diplomático que assume. Ele também elogiou as “virtudes da liderança da República Popular da China” e transmitiu saudações a Akhund.

“É um lugar de honra para mim iniciar o meu trabalho como embaixador chinês no Afeganistão”, disse.

Novo embaixador chinês no Afeganistão, Zhao Sheng, entregou uma cópia de suas credenciais ao ministro das Relações Exteriores talibã, Mawlawi Amir Khan Muttaqi (Foto: Ministry of Foreign Affairs of Afghanistan)

Apesar da nomeação, os talibãs ainda não receberam reconhecimento oficial da China, nem de nenhum outro governo estrangeiro, como governantes de direito do Afeganistão. E a indicação do embaixador chinês não aponta claramente um movimento nessa direção.

O Ministério das Relações Exteriores da China divulgou uma declaração explicando que a nomeação é mera formalidade e faz parte da rotação regular do embaixador chinês no Afeganistão, tendo como objetivo “promover o diálogo e a cooperação entre a China e o Afeganistão”. E acrescentou: “A política chinesa em relação ao Afeganistão permanece inalterada e consistente.”

Atualmente, há outros diplomatas em Cabul com a designação de embaixadores, mas todos assumiram suas funções antes da ascensão dos talibãs ao poder.

Desde então, alguns países e organizações, como o Paquistão e a União Europeia (UE), nomearam diplomatas de alto escalão para liderarem missões diplomáticas sob o título de ‘encarregado de negócios’. Essa designação não requer a apresentação formal de credenciais de embaixador no país anfitrião.

Crise econômica e insegurança

O embaixador chinês citou ainda a estabilização da economia e o fortalecimento da segurança como conquistas do Taleban, fazendo referência justamente os dois maiores problemas enfrentados pelo Afeganistão desde a tomada de poder.

Após o Taleban assumir o controle do Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, o país se afundou em uma grave crise humanitária, com mais de 28 milhões de pessoas, ou dois terços da população, necessitando de ajuda. A ONU (Organização das Nações Unidas) relatou que quatro milhões de pessoas sofrem com desnutrição aguda, incluindo 3,2 milhões de crianças menores de cinco anos.

A segurança é outro desafio do Afeganistão sob a gestão do Taleban. Em julho, a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) divulgou um relatório que cita 1.095 civis mortos em ataques terroristas desde a tomada do poder pelo Taleban, sendo 287 crianças.

A maior ameaça à segurança dos afegãos são os IEDs  (dispositivos explosivos improvisados, da sigla em inglês), responsáveis por cerca de 75% das vítimas. Foram 701 pessoas mortas e 2.113 feridas por bombas, sendo o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) responsável pela enorme maioria das ocorrências.

Desde que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, as ações do EI-K aumentaram, de acordo com a ONU, sendo os principais alvos a população civil e os próprios talibãs. Os radicais que governam o Afeganistão são tratados como apóstatas pela facção de Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

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