China promete ‘medidas drásticas’ contra Taiwan e faz projeção pessimista para 2022

Gabinete de Assuntos de Taiwan em Beijing adverte contra separatismo da ilha e prevê "intervenção externa mais nítida e intensa" no ano que vem

A China prometeu adotar “medidas drásticas” caso Taiwan execute qualquer tipo de movimento com vistas à independência. O alerta foi feito por Ma Xiaoguang, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan em Beijing, que também contestou as interferências externas na questão, um claro recado aos Estados Unidos. As informações são da agência Reuters.

Segundo Ma, a China fará o possível por uma reunificação pacífica com Taiwan, mas promete agir se houver movimentação com vistas à independência. “Se as forças separatistas em Taiwan em busca de independência provocarem, exercerem força ou mesmo romperem qualquer linha vermelha, teremos que tomar medidas drásticas”, disse.

O porta-voz ainda fez projeções pessimistas para o ano que vem, dizendo que a “intervenção externa” pode se tornar “mais nítida e intensa” nos próximos meses, bem como as provocações das forças pró-independência. “No próximo ano, a situação do Estreito de Taiwan se tornará mais complexa e severa”, afirmou.

Tropas do exército da China realizam exercício militar em agosto de 2021 (Foto: eng.chinamil.com.cn/Liu Fang)

O pessimismo de Ma para 2022 é compartilhado por Kuo Yu-jen, diretor do Instituto de Pesquisa de Política Nacional. “A China enviará mais aviões militares ao espaço aéreo de Taiwan no próximo ano, com operações mais intimidadoras”, disse ele ao jornal Taipei Times. “Vale a pena se preocupar com a situação em 2022, pois será um ponto de virada.”

Desde janeiro, os aviões de guerra chineses fizeram cerca de 950 incursões na zona de identificação de defesa aérea de Taiwan (ADIZ, da sigla em inglês), segundo dados do Ministério da Defesa Nacional, contra cerca de 380 no ano passado, quando o ministério começou a divulgar os dados em meio a um aumento acentuado desses voos.

Ou Si-fu, pesquisador do Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa de Segurança, também projeta um ano mais intenso no que tange à beligerância chinesa. “Os meios quase militares da China são parte de sua tática de zona cinzenta para intimidar e coagir Taiwan. É uma ameaça híbrida”, disse. “As atividades da China no Estreito aumentarão à medida que sua competição com os EUA se intensificar”.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, desde 2020 a China tem endurecido a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.

embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho de 2021. O documento taiwanês pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala. Segundo o Pentágono, isso “provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os relatórios reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

Em artigo publicado em novembro, Michael Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de Beijing”.

Tags: