Em seu discurso no Fórum Econômico Mundial de Davos na sexta-feira (21), o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, acusou a China de “coerção econômica”, intervenção estrangeira e de realizar ataques cibernéticos contra nações ocidentais. As informações são do jornal britânico The Guardian.
O premiê alertou para o aumento das disputas territoriais na região do Indo-Pacífico e pediu o fim das medidas protecionistas voltadas para o comércio direcionadas à Austrália, sem identificar a causa da “competição geopolítica mais intensa”.
Em consequência de diversas rusgas com Beijing, incluindo temas como a “interferência nos assuntos em Xinjiang, Hong Kong e Taiwan” e “liderança da cruzada contra a China em fóruns multilaterais”, Camberra está sujeita a tarifas chinesas sobre as principais exportações agrícolas, como cevada e trigo.
O australiano relatou ao fórum que o ambiente estratégico do mundo “se deteriorou”, repercutindo de forma preocupante na região do Indo-Pacífico.
“Há tensão sobre disputas territoriais, rápida modernização militar e interferência estrangeira em países do Pacífico e na Austrália. Ameaças e ataques cibernéticos maliciosos estão sendo realizados, bem como desinformação e coerção financeira”, observou Morrison.
Diante desse cenário, o primeiro-ministro alega que a Austrália buscou uma “rede de alinhamento” com nações que estejam interessadas em cooperar para “favorecer a liberdade e o estado de direito”, incluindo países do Pacífico, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) e o grupo Quad (sigla inglesa pra Diálogo de Segurança Quadrilateral), formado por Japão, Índia e EUA.
“Os interesses da Austrália estão inseparavelmente ligados a um Indo-Pacífico aberto, inclusivo e próspero, onde os direitos de todas as nações são protegidos, bem como as aspirações como nações soberanas”, disse a autoridade.
A Austrália tem procurado combater as tarifas chinesas na Organização Mundial do Comércio (OMC), enquanto alguns membros do governo de coalizão do Partido Liberal-Nacional sugerem responder com medidas protecionistas. Washington prometeu ajudar Camberra a resistir ao protecionismo chinês.
O premiê aproveitou sem espaço em Davos para celebrar a recuperação econômica da Austrália durante a pandemia, fazendo menção à queda de 4,2% no índice de desemprego, bem como a segunda menor taxa de mortalidade por Covid-19 na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a oitava maior taxa global de vacinação.
Por que isso importa?
A relação cordial entre Austrália e China começou a deteriorar em 2018, quando Camberra proibiu a Huawei de fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. E teve piora em 2020, quando a Austrália cobrou uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira da China.
A resposta chinesa veio em forma de imposição de tarifas sobre produtos australianos, como vinho e cevada, além de importações limitadas de carne bovina, carvão e uvas australianas. Os Estados Unidos definiram o movimento como “coação econômica”. À época, as vendas de vinho do país ao Reino Unido cresceram quase 30% depois que a China aumentou taxas de commodities australianas. O país também chegou a “desencorajar” as fábricas de roupas do país de usarem o algodão australiano.
Um documento de 14 páginas vazado de forma deliberada pela Embaixada da China na Austrália em novembro de 2020 já apontava a grave deterioração nas relações entre os dois países. Nele, Beijing acusava o primeiro-ministro Scott Morrison de “envenenar as relações bilaterais”.
A carta ainda culpava Camberra pelos relatórios “hostis e antagônicos” sobre a China na mídia australiana independente e pelos ataques ao acordo do Cinturão da Rota da Seda no estado de Victoria, onde fica Melbourne.