A Meta, proprietária do Facebook, confirmou que vai apagar vídeos antigos armazenados em sua plataforma a partir do dia 5 de junho deste ano. A medida, que afeta transmissões ao vivo arquivadas em geral, trouxe especial preocupação para jornalistas e ativistas de Hong Kong, que alertam para o risco de desaparecerem conteúdos valiosos sobre os protestos pró-democracia realizados na cidade em 2019. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
Em resposta ao anúncio, a Associação de Jornalistas de Hong Kong emitiu um apelo urgente solicitando que profissionais da mídia e cidadãos façam backup dos vídeos imediatamente, para evitar a perda definitiva de um material histórico considerado fundamental. Muitos desses registros, hoje proibidos no território devido às rígidas leis de segurança nacional, estão armazenados exclusivamente nas redes sociais.

“Como a mídia de Hong Kong dependeu fortemente do Facebook Live para cobrir os protestos, a Associação de Jornalistas pede agora aos responsáveis pelos veículos convencionais, independentes, cidadania e editores online que façam backup de seus vídeos o mais rápido possível”, disse a entidade em comunicado.
Um repórter local, identificado apenas como Ken por receio de represálias, lamentou o possível impacto dessa decisão. Segundo ele, grande parte da cobertura original dos protestos corre risco de sumir completamente da internet: “É como se perdêssemos uma biblioteca online. A menos que alguém decida fazer backup e colocar tudo novamente online, não haverá mais como encontrar essa história no futuro”.
Para o comentarista de mídia To Yiu-ming, a preservação desses conteúdos históricos não pode depender das redes sociais. “Se você quer preservar o registro histórico, terá que utilizar métodos menos convenientes e investir tempo e dinheiro”, recomendou To.
O Facebook esclareceu que os usuários poderão solicitar uma extensão de até seis meses antes da exclusão definitiva.
Por que isso importa?
Após ser transferido do domínio britânico para o chinês, em 1997, Hong Kong passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Entretanto, apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa de 2019.
A resposta chinesa aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que a partir de junho de 2020 deu ao governo de Hong Kong o poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. O antigo texto vinha sendo usado até março de 2024, quando uma nova lei, ainda mais dura, foi aprovada.
A aprovação do novo texto legal atendeu a uma determinação da Lei Básica, uma espécie de Constituição do território. Ela exigia em seu artigo 23 que um mecanismo legal próprio fosse estabelecido para substituir o anterior, este imposto emergencialmente pela China. A nova versão da lei pune crimes como traição, insurreição, incitação de membros das Forças Armadas ao motim e conluio com forças externas.
Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação vêm diminuindo cada vez mais em Hong Kong desde que a antiga lei entrou em vigor, ampliando a repressão aos dissidentes. Já as autoridades locais reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território.
O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.
Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada.”