Goldman Sachs projeta aumento da inadimplência no setor imobiliário chinês

Crise no mercado imobiliário puxada pela Evergrande provocou uma onda de inadimplência no país

A onda de inadimplência no mercado imobiliário na China atingiu níveis críticos, segundo apontam analistas da Goldman Sachs, gigante bancária de Wall Street. Isso porque, desde o início do ano, 22 emissores chineses de alto rendimento que deixaram de pagar seus títulos em dólar ou realizaram trocas de títulos estavam vinculados ao setor, que enfrenta grande crise no país. As informações são da rede CNBC.

O aumento da previsão de inadimplência de alto rendimento imobiliário da China elevou a previsão da Goldman Sachs para a taxa de inadimplência entre emissores corporativos asiáticos de alto rendimento de 9,3% para 15,5%, número não muito distante do recorde de 17,8% registrado em 2021.

Segundo a Moody’s, agência de classificação de risco de crédito, o setor imobiliário chinês corresponde a mais de um quarto da economia local.

Setor imobiliário enfrenta crise na China (Foto: WikiCommons)

Beijing se esforçou para estancar a especulação em seu mercado imobiliário, antes pujante. De 2020 para cá, os reguladores focaram as atenções na redução da dependência dos promotores imobiliários da dívida para o crescimento. Isso serviu para algumas empresas se ajustarem. Outras, no entanto – particularmente a Evergrande, incorporadora mais endividada do mundo –, preocuparam os investidores com as possíveis consequências de um calote em larga escala.

“É improvável que vejamos uma recuperação mais ampla na China até que as vendas de imóveis comecem a mostrar sinais de recuperação”, preveem os analistas da Goldman.

Para eles, o controle da pandemia de coronavírus será um fator essencial para que o setor saia do vermelho. “Acreditamos que mais medidas de flexibilização são necessárias antes que as vendas de imóveis possam se recuperar, principalmente com as restrições da Covid-19 em várias cidades da China”, observam.

Pandemia agravou cenário

A China continental vive seu pior momento da crise sanitária desde que o primeiro surto da doença foi identificada em Wuhan. Com bloqueios rigorosos dentro da política de “Covid Zero” que se arrastam desde março, incluindo controle do governo nos aeroportos e confinamento total em Xangai, potenciais compradores ficaram impossibilitados de ver as propriedades, derrubando as vendas.

Análise da Goldman divulgada na segunda-feira (23) mostra que o volume diário de transações imobiliárias em 30 grandes cidades caiu 50% no mês de maio.

Segundo a mídia estatal chinesa, o governo reduziu neste mês as taxas de hipoteca. Vários governos locais seguiram o exemplo e também reduziram os adiantamentos ou anunciaram outras medidas para facilitar a compra de imóveis localmente.

Segundo Hu, abril foi provavelmente o pior mês para o setor imobiliário em 2022. Na visão do analista, há uma lógica simples: o desemprego subiu à medida que a demanda por imóveis e crédito entraram em queda. “Os formuladores de políticas não têm escolha a não ser tomar medidas para salvar o mercado imobiliário”, analisa.

Por que isso importa?

O proeminente economista Robert Z. Aliber, professor aposentado da Booth School of Business da Universidade de Chicago, prevê que a China sofrerá um desastre de contornos semelhantes aos que causaram o derretimento da economia norte-americana em 2008, prometendo ser ainda pior.

Segundo Aliber, o colapso iminente do setor de apartamentos de luxo fez nascer um monstro: há um excesso de imóveis que não conseguem encontrar compradores. “A economia da China está atingindo um grande muro”, sintetiza.

O pessimismo do economista alerta para um desastre em cascata: conforme os inventários de apartamentos não vendidos continuem inchando, os bancos exigirão que os construtores paguem seus empréstimos. “Essas construtoras deixarão de comprar terrenos brutos dos governos locais, causando uma queda acentuada em suas receitas. As vendas de todos os materiais que vão para a construção de apartamentos cairão. Com isso, o governo “adotará um milhão de regulamentos para limitar as reduções de preços” e fornecerá salvamentos maciços para os financiadores.

Diante desse cenário, o economista prevê uma recessão que poderá se estender por até uma década no país, antevendo também que o crescimento do PIB dificilmente ultrapassará 2%. E o pior: em alguns anos, poderá se tornar negativo. Para Aliber, o balão chinês está mais cheio do que o que explodiu há 15 anos nos Estados Unidos. Se ele tiver razão, o mundo não deve demorar muito a ouvir o estalo.

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