Funcionários de Nova Délhi disseram à Reuters que oficiais de inteligência da Índia e do Paquistão mantiveram conversas secretas sobre um novo esforço para encerrar a tensão militar na Caxemira, região disputada entre os dois países. As reuniões não divulgadas teriam acontecido em Dubai ainda em janeiro.
Autoridades dos Emirados Árabes Unidos seriam as facilitadoras do encontro. Nova Délhi, Dubai e Islamabad não responderam aos pedidos de comentários e as fontes pediram anonimato. Reuniões secretas já aconteceram no passado, mas não costumam ser reconhecidas publicamente.
“Há muitas coisas que ainda podem dar errado”, disse um dos entrevistados. “É preocupante. Não temos um nome para isso, não é um processo de paz. Podemos nomear como reengajamento”. Após janeiro, Índia e Paquistão decidiram pelo cessar-fogo na Linha de Controle – fronteira que divide a Caxemira. Não há troca de tiros desde então.
Ambos os lados também sinalizaram que planejam realizar eleições como parte dos esforços para trazer normalidade à região destruída por décadas de conflitos. Os países também teriam concordado em “diminuir a retórica”, relatou um dos funcionários.
Rivais históricos, Índia e Paquistão congelaram os laços desde o ataque suicida de Pulwama, que matou mais de 40 militares e civis em fevereiro de 2019. Nova Délhi acusou Islamabad de arquitetar a explosão e enviou aviões de guerra ao Paquistão.
Meses depois, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi retirou a autonomia da Caxemira governada pela Índia. A medida aumentou o controle sobre o território e fragmentou ainda mais as relações diplomáticas entre os dois países. Desde então, o comércio bilateral está suspenso.
Possíveis benefícios
Índia e Paquistão teriam a ganhar com a aproximação. Nova Délhi deve se precaver do alinhamento total entre Islamabad e Beijing, com quem disputa a fronteira do Himalaia desde o ano passado. Do outro lado, as dificuldades econômicas do Paquistão dificultam a operação militar na Caxemira.
Ao mesmo tempo, o país precisa estabilizar a fronteira com o Afeganistão, que está imerso em uma onda de violência desde que os EUA anunciou a saída das tropas do país. “É melhor para ambos falar do que não falar, e ainda melhor que seja em silêncio”, disse a jornalista Myra MacDonald, especialista nas guerras de fronteira da Caxemira.
“Mas não vejo isso indo muito além de uma gestão básica de tensões. É possível que seja somente para equilibrar os dois países em um período difícil”, apontou.