Pacto EUA-Taiwan combate isolamento diplomático, afirma negociador da ilha

O acordo é a mais ampla iniciativa comercial entre Washington e a ilha desde 1979, enfurecendo Beijing

Segundo John Deng, o principal negociador comercial de Taiwan, a assinatura de um pacto entre a ilha semiautônoma e os Estados Unidos irá desempenhar um papel crucial no enfrentamento do isolamento diplomático imposto pela China. O compromisso tem o propósito de fortalecer as trocas comerciais com os norte-americanos, simplificando os procedimentos alfandegários, investimentos e outras regulamentações. As informações são da rede CNN.

Denominada como a mais abrangente iniciativa comercial entre os EUA e Taiwan desde que Washington transferiu o reconhecimento diplomático para Beijing em 1979, o acordo permitirá a demonstração do histórico taiwanês em aderir às regras do comércio internacional. Esse avanço, por sua vez, deve pavimentar o caminho para futuros acordos comerciais com outras economias avançadas, conforme prevê Deng.

“Nossa mensagem é clara: Taiwan é um parceiro comercial confiável. Respeitamos os direitos de propriedade intelectual, seguimos as normas e nos orgulhamos de ser uma sociedade transparente e democrática”, enfatizou.

Comitiva de Washington em banquete de boas-vindas oferecido pelo ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu (Foto: Twitter/Reprodução)

Deng observou que além de combater o isolamento diplomático, o acordo também busca fortalecer a economia taiwanesa, atraindo mais investimentos estrangeiros e aumentando as conexões internacionais. Segundo ele, esses esforços contribuirão para tornar Taiwan “mais robusta e segura no cenário global.”

O pacto enfureceu Beijing, que embora tenha Taiwan como parte de seu território, nunca teve controle total sobre a “província rebelde”. Em uma declaração do Escritório de Assuntos de Taiwan da China em junho, o governo censurou Washington por “dar um sinal errado às forças separatistas” taiwanesas.

A ilha autônoma tem enfrentado desafios no reconhecimento internacional, devido à crescente pressão da China, que a vê como seu próprio território e almeja eventual unificação.

De uns anos para cá, Beijing coordenou exercícios militares em grande escala ao redor da ilha, isolando alguns de seus aliados diplomáticos remanescentes e restringindo a importação de certos produtos taiwaneses.

Após assinar a primeira parte do pacto comercial em junho, ambos os lados planejam iniciar negociações em outras áreas, como agricultura e trabalho, em agosto, com o objetivo de concluir as discussões até o final do ano.

Essa medida ocorre enquanto Taiwan busca ingressar no Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP), um importante acordo de livre comércio estabelecido em 2018. Em março, o Reino Unido também chegou a um acordo para se juntar ao bloco.

CPTPP reúne 11 economias, como México, Malásia e Vietnã, que têm apresentado rápido crescimento, e as já consolidadas Austrália, Nova Zelândia, Japão e Canadá.

Inscrições sob avaliação

Taiwan e a China continental fizeram pedidos para ingressar no CPPTT em 2021, ainda em análise. Deng expressou otimismo de que o acordo comercial EUA-Taiwan possa ajudar a ilha a se juntar ao CPPTT, apesar da oposição da China, que pode influenciar membros do acordo.

Taiwan está empenhada em seguir as regras e espera obter uma chance de participar. A equipe taiwanesa trabalha para superar a pressão da China e enfatiza que o país merece ter sua voz nas organizações internacionais.

Beijing já se manifestou contrária ao pedido de Taiwan, argumentando que “só há uma China no mundo” e que se opõe firmemente à participação da ilha em acordos ou organizações oficiais.

Tornar-se membro do CPPTT permitiria a Taiwan ter acesso a comércio livre de tarifas com outros membros, além de eliminar barreiras para a prestação de serviços em outros países.

O governo taiwanês considera o CPPTT o acordo comercial mais importante da região, abrangendo 500 milhões de pessoas e representando 15% do PIB global.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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