Taiwan estuda táticas de guerra da Ucrânia a fim de usá-las em caso de invasão chinesa

Entre os tópicos sendo analisados destacam-se o fraco desempenho russo e a alta capacidade de resistência dos ucranianos

Taiwan segue de olho nos desdobramentos da guerra na Ucrânia, temendo sofrer destino semelhante nas mãos da China. Dessa forma, o Ministério da Defesa da ilha formou um grupo de estudos para analisar as táticas de guerra ucranianas, e os resultados têm sido analisados em parceira com os EUA, de acordo com a rede Voice of America (VOA).

“Isso não é discutido apenas em encontros de intercâmbio entre os Estados Unidos e Taiwan, mas também discutido com outros países que mantêm contatos regulares com Taiwan”, declarou o ministro da Defesa taiwanês, Chiu Kuo-cheng.

Entre os escolhidos para participar do grupo de estudos estão acadêmicos da Universidade de Defesa Nacional, que têm se focado em tópicos como o fraco desempenho russo e a alta capacidade de resistência dos ucranianos.

Treinamento de combate das forças taiwanesas (Foto: Maxpixel/Divulgação)

“No entanto, não faremos comentários precipitadamente, mas através de discussões internas que são importantes, para obter resultados que sejam úteis para a construção de armamentos e preparação para a guerra”, afirmou o ministro.

Se, por um lado, Taiwan enxergam semelhanças entre sua situação e a da Ucrânia, como o fato de o inimigo ser um Estado vizinho militarmente poderoso, há também diferenças importantes. Entre elas a enorme barreira natural que representa o Estreito de Taiwan, que dificultaria bastante a missão chinesa de posicionar suas tropas em solo taiwanês.

Também pesa a favor da ilha sua bem equipada força aérea e uma capacidade de defesa antiaérea que vem sendo desenvolvida nos últimos anos. Sem falar na relevância econômica de Taiwan, a 22ª maior economia do mundo, o que provavelmente forçaria Washington a adotar uma posição bem mais agressiva do que no caso da Ucrânia.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação entre Taipé e Washington, desde 2020 a China endureceu a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.

embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho de 2021. O documento taiwanês pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala, justamente por se tratar de uma ilha. Segundo o Pentágono, isso “provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os relatórios reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

Em artigo publicado em novembro, Michael Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de Beijing”.

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