Taiwan promete fortalecer defesa após vídeo de soldados apedrejando drone chinês

Imagens mostram militares atacando o objeto civil, cena que foi classificada como 'humilhante' pelo governo da ilha

O governo de Taiwan anunciou na quinta-feira (25) que “instalará um sistema de defesa contra drones no ano que vem”, após confirmar a veracidade de um “humilhante” episódio ocorrido no dia 16 de agosto. Na ocasião, dois soldados taiwaneses foram registrados em vídeo atirando pedras contra um drone civil chinês que teria invadido o espaço aéreo da ilha. As informações são da rede Radio Free Asia.

O vídeo foi feito pelo próprio drone civil, avistado pelos militares no condado de Kinmen. As imagens foram publicadas na rede social chinesa Weibo e viralizaram. No mesmo vídeo aparecem outros dois soldados em uma sala de vigilância, um deles com uma câmera fotográfica nas mãos.

O episódio foi confirmado pelo Comando de Defesa de Kinmen, que controla as operações de segurança da ilha, localizada a menos de seis quilômetros de Xiamen, na China continental. Kinmen é uma das ilhas de Taiwan mais distantes do resto de seu território e mais próximas dos domínios de Beijing.

As cenas dos soldados atacando o drone com pedras geraram piadas nas redes sociais. “Como você pode ver, a defesa aérea em Taiwan estava realmente ativa”, disse um usuário. “A arma terra-ar mais avançada de Taiwan foi exposta”, ironizou outro.

Wang Ting-yu, legislador do Partido Democrático Progressista de Taiwan, classificou o incidente como “muito sério”, segundo a agência Reuters. “O drone estava voando em cima de nossos soldados em guarda, mas não houve resposta”, disse ele. 

Em janeiro deste ano, um alto funcionário do governo de Taiwan havia afirmado que drones comerciais de fabricação chinesa poderiam conter softwares maliciosos que enviam dados de voo e imagens para Beijing.

Versão de drone chinês de janeiro de 2013 (Foto: CreativeCommons)
Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita à ilha de Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unido, primeiro ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos. A atitude mexeu com os brio de Beijing, que então realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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