Washington não atendeu aos pedidos de asilo do ativista de Hong Kong Joshua Wong, diz livro

Obra fala em 'abandono' do ativista pró-democracia pelos EUA às vésperas da instauração da lei de segurança nacional

O ativista e ex-líder estudantil honconguês Joshua Wong pediu e não ganhou asilo político dos EUA antes da implementação da rígida lei de segurança nacional em 2020, conforme revelado em um novo livro dos jornalistas norte-americanos Shibani Mahtani e Timothy McLaughlin, correspondentes pelo Washington Post e The Atlantic, respectivamente. Segundo a narrativa dos autores, a situação caracterizou um “abandono” de Washington ao militante pró-democracia. As informações são da rede Radio Free Asia.

A obra, intitulada ‘Among the Braves’ (“Entre os bravos”, em tradução literal, ainda sem título em português), conta que Joshua, ex-secretário-geral do partido político pró-democracia Demosisto, fundado por líderes estudantis de Hong Kong, encontrou-se com membros do consulado dos EUA no dia 30 de junho daquele ano na tentativa de buscar abrigo na missão diplomática, já que a Casa Branca apoiava a causa.

A história continua descrevendo como o ativista buscou se proteger da repressão das autoridades locais ao entrar em um edifício de escritórios em frente à embaixada dos Estados Unidos, preocupado com seu futuro na cidade. No entanto, foi comunicado que não poderia pedir asilo político no exterior, embora estivesse ciente de que dissidentes haviam anteriormente encontrado refúgio em missões de Washington antes de serem enviados ao país.

Rosto de Joshua Wong é pintado como forma de protesto pró democracia (Foto: thierry ehrmann/Flickr)

O livro relata que Jeffrey Ngo Cheuk-hin, amigo do ativista nos EUA, enviou um e-mail em nome de Wong a Mike Pompeo, então secretário de Estado norte-americano, solicitando asilo político. Pompeo, dentro de 48 horas, discutiu o pedido com seus assessores.

À época, devido ao fechamento do consulado chinês em Houston pelos EUA, citando roubo de segredos comerciais, havia receios de retaliação da China, incluindo o fechamento do consulado norte-americano em Hong Kong, se descobrissem que Wong estava escondido lá.

Segundo a obra, Pompeo considerou transportar Wong secretamente por água, mas descartou a ideia para evitar repercussões internacionais caso fossem interceptados pela guarda costeira chinesa.

Apesar de várias tentativas no Capitólio secretamente lideradas pelo ex-parlamentar exilado Nathan Law, não houve sucesso em persuadir as autoridades a considerar o pedido de Wong. O livro também menciona que, quando a lei de segurança foi aprovada, ainda não havia oferta de proteção.

“Em vez disso, os diplomatas falavam juridiquês, explicando que tecnicamente não se poderia solicitar asilo fora dos próprios Estados Unidos”, conta a obra.

O livro fala ainda que o então presidente dos EUA, Donald Trump, “gostou” da ideia de implementar esquemas de imigração ‘salva-vidas’ para os habitantes de Hong Kong, permitindo que eles migrassem para os EUA e se tornassem ‘excelentes americanos'”. No entanto, a ideia fracassou devido à forte objeção dos membros do gabinete do ex-chefe da Casa Branca, segundo abordou o The Standard.

Quem é Wong

Joshua Wong ficou conhecido internacionalmente pelo Movimento dos Guarda-Chuvas em 2014, no qual os manifestantes exigiam eleições democráticas plenas e o direito de escolher diretamente o chefe do executivo de Hong Kong, sem a interferência de Beijing.

Após os atos, Wong teve seu passaporte confiscado e foi impedido de deixar a cidade. Com o aumento do controle de Beijing e a fuga de colegas dissidentes, o ativista de 23 anos via os EUA como sua última esperança.

Apesar do apoio declarado de Washington aos protestos em Hong Kong, seu pedido de asilo foi rejeitado pelos funcionários consulares dos EUA em 2020, citando regulamentos.

Em poucos meses, ele foi preso sob a nova lei de segurança, enfrentando agora prisão perpétua por “conluio com forças estrangeiras” – as mesmas conexões que tentou usar para escapar.

medida aprovada pelo Congresso da China aumentou o controle chinês sobre a ex-colônia britânica e foi criada após os gigantescos protestos de 2019 para suprimir qualquer ato que possa “ameaçar a segurança nacional”.

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