Presidente Xi Jinping visita Xinjiang pela primeira vez em oito anos

Alheio ao Ocidente, que acusa Beijing de genocídio contra a minoria muçulmana na região, líder chinês passeou sem máscara ao lado de uigures

O presidente da China, Xi Jinping, visitou Xinjiang na semana passada, em sua primeira viagem à região autônoma em quase uma década, segundo informou a mídia estatal na sexta-feira (15). O mandatário não colocava os pés lá desde 2014, três anos antes de o Ocidente chamar a atenção para supostas violações de direitos humanos contra a minoria muçulmana dos uigures, as quais muitos países classificam como genocídio. As informações são da rede alemã Deutsche Welle (DW).

Xi iniciou os compromissos na terça-feira (12), na capital da província Urumqi, segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua. Ele definiu a região como “área central” da Nova Rota da Seda (Belt and Road Iniciative, da sigla em inglês BRI), iniciativa que financia projetos de infraestrutura no exterior, como portos, ferrovias e usinas de energia que servirão para melhorar a conexão entre a economia chinesa e Ásia Central e Europa Oriental.

Na agenda na quarta-feira (13), o líder foi até a cidade de Shihezi, onde inspecionou o Corpo de Produção e Construção de Xinjiang (XPCC, na sigla em inglês), uma organização supragovernamental inserida nas listas de sanções dos EUA por supostamente gerir campos de detenção de uigures.

Da tarde de terça-feira (12) até a manhã de quarta (13), Xi Jinping fez inspeções e visitas (Foto: CulturalChinaBJ/Reprodução Facebook)

Segundo a rede Bloomberg, Xi ainda teve um encontro com lideranças do XPCC, que administra seus próprios tribunais, escolas e sistemas de saúde na região autônoma. Às autoridades, Xi Jinping pediu por uma “melhor preservação da herança cultural de grupos minoritários”.

A agência Reuters repercutiu uma reportagem da CCTV segundo a qual Xi disse “que as práticas islâmicas devem estar em conformidade com as sensibilidades chinesas e que Xinjiang deve preparar uma equipe de representantes religiosos ‘politicamente confiáveis'”.

O presidente também apareceu sem máscara em uma foto da agência People’s Daily, cercado por moradores que aparentemente seriam uigures vestidos em trajes étnicos, todos sorrindo e batendo palmas.

“O objetivo da viagem de Xi a Xinjiang é ver os resultados das políticas que ele implementou nos últimos anos para estabilizar a região e concluir que sua abordagem e estratégia foram bem-sucedidas”, disse à Reuters Li Mingjiang, professor associado da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, sediada em Cingapura.

O presidente ainda passou por uma plantação de algodão, uma universidade, uma zona comercial e um museu, segundo a estatal CCTV.

No ano passado, uma pesquisa da Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, apontou que mais de cem empresas em todo o mundo vendem, sem saber, roupas produzidas com algodão da província de Xinjiang. O material é rejeitado por inúmeras empresas devido às suspeitas de uso de trabalho forçado na região. Os EUA inclusive sancionaram o algodão da região, cujo uso agora é vetado.

Por que isso importa?

A comunidade uigur é uma minoria muçulmana de raízes turcas que habita a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas.

Os uigures, cerca de 11 milhões em Xinjiang, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. .

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirma que o trabalho forçado uigur é “a maior mentira do século”. “Os Estados Unidos tanto criam mentiras quanto tomam ações flagrantes com base em suas mentiras para violar as regras do comércio internacional e os princípios da economia de mercado”, disse ele.

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