Variante Ômicron expõe necessidade de um tratamento global contra a Covid-19

Chefe da OMS diz que o mundo não respondeu corretamente à Covid-19 e que a iniquidade da vacina facilita o aparecimento de novas variantes

A nova variante Ômicron da Covid-19 mostra a importância de encerrar o atual “ciclo de pânico e negligência” em relação à pandemia e iniciar uma cooperação internacional a fim de preservar “ganhos duramente conquistados” contra os coronavírus. A firmação foi feita pelo chefe da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, nesta segunda-feira (29), na abertura de uma reunião especial de três dias da entidade.

A reunião da Assembleia Mundial da Saúde foi convocada para decidir sobre a questão do chamado “tratado de pandemia”. Ghebreyesus destacou que o mundo não respondeu corretamente à Covid-19 e que a iniquidade da vacina, entre outros desafios, facilita o aparecimento de novas variantes altamente mutáveis, como a Ômicron.

“A Ômicron demonstra exatamente por que o mundo precisa de um novo acordo sobre pandemias: nosso sistema atual desencoraja os países a alertarem os outros sobre ameaças que inevitavelmente pousarão em suas costas”, disse o diretor-geral da OMS.

Ghebreyesus destacou que a África do Sul, onde a Ômicron foi identificado pela primeira vez, merece agradecimentos por detectar, sequenciar e relatar a nova variante, e não penalizada, referindo-se às atuais proibições de viagens que muitos países estão impondo à nação africana e seus vizinhos.

Trabalhadores da saúde levam paciente contaminada com Covid-19 para hospital de Guwahati, extremo leste da Índia (Foto: Unicef/Biju Boro)

O Secretário-Geral da ONU também expressou sua profunda preocupação pelo isolamento agora sentido pelos países da África Austral devido às novas restrições impostas às viagens da região, por dezenas de nações em todo o mundo.

“O povo africano não pode ser responsabilizado pelo nível imoralmente baixo de vacinas disponíveis na África. E não deve ser penalizado por identificar e partilhar informações científicas e de saúde cruciais com o mundo”, disse o líder da ONU (Organização das Nações Unidas) António Guterres. “Apelo a todos os governos para que considerem repetidos testes para viajantes, juntamente com outras medidas apropriadas e verdadeiramente eficazes”.

Disseminação e vacinação

A probabilidade de uma disseminação adicional da Ômicron em nível global foi definida como “muito alta” pela OMS. Ghebreyesus lembrou que, embora os cientistas ainda não saibam com certeza se a variante está associada a mais risco de transmissão e doença grave, ou se tem algum impacto na eficácia das vacinas, o mundo não deveria precisar de outro “toque do despertador”.

“O próprio surgimento da Ômicron é outro lembrete de que, embora muitos de nós possamos pensar que terminamos com a Covid-19, ela não terminou conosco. Estamos vivendo um ciclo de pânico e abandono. Ganhos duramente conquistados podem desaparecer em um instante. Nossa tarefa mais imediata, portanto, é acabar com essa pandemia”, destacou.

Mais de 80% das vacinas mundiais foram para os países do G-20, enquanto os países de baixa renda, a maioria deles na África, receberam apenas 0,6% de todas as vacinas. “Nenhum país pode vacinar sozinho para sair da pandemia. Quanto mais tempo a desigualdade da vacina persistir, mais oportunidades este vírus terá de se espalhar e evoluir de maneiras que não podemos prever nem prevenir. Estamos todos juntos nisso ”, disse o chefe da OMS.

Especialistas em direitos humanos aderiram ao apelo, exortando os Estados a agirem decisivamente para garantir que todas as pessoas tenham acesso igual e universal às vacinas contra Covid-19, particularmente aquelas pessoas em países de baixa renda que foram deixados de fora da resposta global.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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