Diferente de antes, dessa vez a população protesta contra o golpe de Estado no Mali

Diferente dos golpes de 2020, 2012, 1991 e 1968, população do Mali não viu tomada de poder de maio positivamente

Dois golpes de Estado em nove meses parecem ter sido demais para a população do Mali. Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, agora a maior parte da população malinês rejeita a tomada de poder pelo coronel Assimi Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país.

A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação. Por mais que o Twitter não seja a personificação do cidadão malinês, vale como termômetro a viralização da hashtag #Wuli (“Levante-se”, em Bambara, um idioma local).

Em meio à efervescência política, pessoas entrevistadas pelo site australiano The Conversation manifestam desprezo pela classe política, e a reação global é de consternação e crítica. Um cenário bastante diferente daquele dos golpes anteriores, em 2020, 2012, 1991 e 1968, quando a tomada de poder foi recebida com entusiasmo e comemoração nas ruas.

Diferente de antes, civis do Mali rejeitam novo golpe a governo de transição
O coronel Assimi Goita em pronunciamento como presidente adjunto do Mali em maio de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter/GoitaAssimi)

Entenda o golpe

A turbulência política começou semanas antes do mais recente golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Some-se a isso as denúncias de corrupção que nunca cessaram, mesmo com a derrubada do presidente anterior Ibrahim Boubacar Keita, no golpe de agosto de 2020.

Outro lado

O coronel, que agora ocupa a presidência, já declarou que, apesar dos acontecimentos, realizará eleições em fevereiro de 2022, quando se encerra o governo de transição. Ainda não há, porém, qualquer sinal de planejamento ou organização para o novo pleito.

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