Alemão é acusado de ajudar a Rússia a adquirir produtos químicos para armas

Suspeito teria administrado companhia que exportava produtos para uma empresa de fachada operada pelo Kremlin

A Procuradoria-Geral Federal da Alemanha (GBA) apresentou na terça-feira (22) uma ação contra um cidadão alemão, alegando que ele teria fornecido produtos químicos usados na produção de armas de destruição em massa para uma agência de inteligência russa. As informações são da agência Reuters.

O suspeito, identificado apenas como Alexander S., é acusado de administrar uma firma no Estado da Saxônia que exportou produtos químicos avaliados em 1 milhão de euros (US$ 1,13 milhão) a uma empresa de fachada operada por agentes do Kremlin desde 2017.

Alexander, preso em maio de 2021, teria fornecido produtos químicos de dupla utilização, usados tanto para fins de aplicações civis quanto militares. Ele não possuía a licença especial de exportação exigida pela lei federal, relatou a GBA em um comunicado.

Alemão é acusado de ajudar a Rússia a adquirir produtos químicos para armas
Especialista extrai e testa amostras de uma potencial Arma de Destruição em Massa retiradas de um laboratório terrorista (Foto: WikiCommons)

“A empresa fazia parte de uma rede dirigida por uma agência dos serviços secretos russos e escondia o propósito militar das mercadorias disfarçando-se como uma entidade civil”, detalhou a GBA em nota.

Há algum tempo que o Kremlin rechaça qualquer acusação de que possui armas químicas e classifica esse tipo de denúncia como “infundada”, sustentando que as “destruiu há muito tempo, em consonância com a Convenção sobre Armas Químicas [CAQ]”.

Alexander S. também irá responder pela exportação de equipamentos eletrônicos avaliados em 21 mil euros no período de setembro de 2019 e novembro de 2020 destinados a um instituto na Rússia que desenvolve e fabrica armas nucleares. Segundo o GBA, tal instituto está sob as sanções da União Europeia (UE) desde 2014, logo após Moscou ter anexado a Crimeia.

A Alemanha acusa a Rússia de usar contra Aleksei Navalny, político russo opositor a Vladimir Putin, a substância neurotóxica novichok, uma velha conhecida da dissidência do regime que ocupa o Kremlin. Para o Reino Unido e os EUA, o mesmo veneno foi usado no ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha Yulia, em 2018. A tática foi borrifar o produto na porta da casa dos Skripal, em Salisbury, no sul da Inglaterra. 

Por que isso importa?

As atividades de espionagem russas na Alemanha aumentaram muito nos últimos anos, atingindo níveis semelhantes aos dos tempos de Guerra Fria. Em junho de 2021, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco. Inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang diz que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, diz.

Alguns casos ligados à espionagem russa na Alemanha vieram a público, como o ataque cibernético contra 38 parlamentares alemães em março de 2021. A invasão faria parte da campanha “Ghostwriter”, supostamente do GRU (Serviço de Inteligência Militar da Rússia). O alvo eram políticos do SPD (Partido Social Democrata) e da CDU (União Democrática Cristã), esta a sigla da então chanceler Angela Merkel.

Em dezembro do ano passado, a Promotoria da Alemanha pediu prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional, em ação contra o russo Vadim Krasikov, acusado de atirar em Zelimkhan Khangoshvili, pseudônimo adotado por Tornike Kavtarashvili, um ex-comandante checheno que vivia em Berlim. O crime teria sido ordenado por Moscou.

Segundo os promotores encarregados do caso, o crime foi encomendado pelo Estado russo não apenas como retaliação, mas também como uma mensagem intimidadora a outros chechenos que busquem asilo no exterior.

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