Ameaça do Estado Islâmico leva autoridades a ampliar a segurança na Liga dos Campeões

Serão duas partidas nesta terça-feira (9), em Londres e Madrid, e duas na quarta (10), em Paris e novamente em Madrid

Os países que receberão jogos pelas quartas de final da Liga dos Campeões, principal torneio de clubes de futebol da Europa, aumentaram a segurança nesta semana, após o Estado Islâmico (EI) convocar seus seguidores para que realizem ataques nos eventos. As informações são da rede BBC.

Serão duas partidas nesta terça-feira (9), em Londres e Madrid, e duas na quarta (10), em Paris e novamente em Madrid. Em seus canais de propaganda, o EI publicou fotos dos quatro estádios que receberão os jogos e inflamou seus seguidores.

“Devo lembrar que há apenas dez dias o EI compartilhou uma foto do estádio de Munique e disse que deveriam ser tomadas medidas contra os locais esportivos que recebem jogos de futebol, embora todos os esportes possam ser visados. Dada a importância da Liga dos Campeões para o futebol, é claro que estamos conversando com nossos parceiros”, disse o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin.

Apesar das ameaças, a Uefa (União Europeia de Futebol) afirmou que os jogos não serão cancelados. “Todos os jogos estão planejados para acontecer conforme programado, com medidas de segurança apropriadas em vigor”, disse entidade através de um porta-voz.

Polícia francesa em ação nas ruas de Paris (Foto: Flickr)

Desde o ano passado, ao menos cinco países europeus conseguiram impedir ataques da organização, que no dia 22 de março realizou uma ação com 145 mortos em Moscou. Segundo o site independente russo Important StoriesAlemanhaÁustriaEspanhaFrança e Holanda fizeram bom uso de seus serviços de inteligência e conseguiram agir a tempo de evitar mortes.

Em julho de 2023, uma operação conjunta realizada pelas polícias da Alemanha e da Holanda levou à prisão de terroristas que diziam servir ao EI-K. Os indivíduos eram cidadãos de países da Ásia Central, a maioria do Tadjiquistão, de onde também vieram os autores do ataque de 22 de março em Moscou. Os demais eram do Turcomenistão e do Quirguistão.

Segundo as agências de inteligência de Alemanha e Holanda, os detidos já haviam feito o reconhecimento dos locais onde realizariam os ataques e foram presos quando tentavam obter as armas de que necessitavam. Eles entraram na União Europeia (UE) através da Polônia, fazendo-se passar por refugiados de guerra.

Também do Tadjiquistão vieram os indivíduos presos em dezembro do ano passado em uma operação conjunta realizada pelas polícias espanhola, austríaca e alemã. Os alvos, nesse caso, seriam igrejas e outros estabelecimentos católicos nos três países. 

O alvo preferencial do EI-K, entretanto, parece ser a França. Após o terrível ataque de Moscou, o presidente Emmanuel Macron disse que em mais de uma oportunidade suas forças de segurança frustraram ações do grupo terrorista.

Embora Macron não tenha citado em quais ocasiões o EI-K esteve por trás da ameaça, a polícia chegou a realizar operações de evacuação no Museu do Louvre e no Palácio de Versalhes, duas das principais atrações turísticas francesas, devido a suspeitas de bomba em outubro de 2023.

Por que isso importa?

O EI passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz o relatório, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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