Belarus inicia movimentação militar e dá indícios de que entrará na guerra contra a Ucrânia

Há relatos vindos do país de que a mobilização de soldados fora de serviço já começou, inclusive com a proibição de que deixem o país

São cada vez mais fortes os indícios de que Belarus colocará suas tropas em ação ao lado das da Rússia na guerra contra a Ucrânia. Nos últimos dias, Minsk começou a movimentar armas e posicioná-las pelo país, sob o argumento de “proteger a pátria”, e há relatos de que as forças armadas já realizam uma mobilização secreta, com soldados fora de serviço impedidos de deixar o país.

O exército belarusso tem atualmente 65 mil soldados, sendo 45 mil das forças regulares e 20 mil funcionários de apoio e cadetes. Porém, nem todos os soldados estão na ativa. Muitos ficam fora de serviço em tempos de paz, mas a mídia local afirma que eles já estão de prontidão.

Em artigo publicado pela a agência catari Al Jazeera, Katia Gold, analista independente e membro do Programa de Resiliência Democrática do think tank Centro de Análise de Políticas Europeias, sediado em Washington, disse que a mobilização vem sendo realizada “sob o pretexto de testar as capacidades militares e a prontidão das tropas”.

Belarus também começou a preparar cerca de cinco mil instalações em diversas regiões do país para que sejam usadas como abrigos contra eventuais ataques aéreos, enquanto a movimentação de armas foi confirmada por Vadym Sinyavskyi, chefe do Ministério de Situações de Emergência de Belarus. Ele disse a um canal estatal que “todas as armas planejadas foram recebidas do Ministério da Defesa e colocadas em nossas salas para armazenamento de armas”, segundo a revista Newsweek.

“A liderança do nosso país está tomando todas as medidas para evitar que [um conflito] aconteça”, disse Sinyavskyi. “Mas entendemos que, infelizmente, o mundo é tal que pode haver uma situação em que teremos que agir rapidamente. Em particular, dentro dos limites da defesa civil”.

Encontro entre Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

Imagens que circulam nas redes sociais também mostram um aumento considerável na movimentação de equipamentos militares, inclusive tanques blindados, pelas ferrovias belarussas, segundo a rede CNN. Os analistas afirmam que a probabilidade maior é a de que seja armamento da Rússia que vinha sendo armazenado em Belarus e agora foi reivindicado para compensar as perdas de Moscou.

Entretanto, embora improvável, não é impossível que se trate de equipamento das forças armadas de Belarus sendo enviado para permitir que suas tropas entrem na guerra.

De toda forma, John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, afirmou na semana passada que não existem indícios de que as tropas belarussas estejam “se preparando para entrar ou de que entrarão” na guerra. “Qualquer tropa adicional sob o comando russo é algo para se preocupar, mas simplesmente não estamos lá ainda”, afirmou.

Acordo de defesa

Embora o argumento de Minsk seja sempre o de defender seu território, não de atacar a Ucrânia, uma justificativa para o ingresso no conflito já está na ponta da língua dos presidentes russo Vladimir Putin e belarusso Alexander Lukashenko. E estaria relacionado aos recentes ataques realizados por Kiev contra Donetsk e Kherson, duas regiões ucranianas anexadas por Moscou. Alegando que tais ações constituem uma agressão ao Estado russo, o Kremlin poderia ativar o acordo estabelecido com Belarus que obriga o país a reforçar as tropas russas em tais situações.

“A doutrina militar conjunta desta aliança, que Lukashenko assinou sob pressão do Kremlin em novembro passado, afirma que qualquer ação militar contra um de seus membros é um ataque ao Estado da união como um todo”, afirma Katia Gold no artigo para a Al Jazeera.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia, anterior à guerra na Ucrânia, já gerou críticas ao presidente Alexander Lukashenko por submeter Minsk às ordens de Moscou. O jornalista russo Konstantin Eggert afirmou, em artigo publicado pela rede alemã Deutsch Welle em março, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos.

Segundo Eggert, “tudo o que o Kremlin está fazendo aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto do ano passado, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

O enfoque da aliança tornava-se cada vez mais militar conforme a tensão crescia entre Rússia e Ucrânia, com um ataque por parte de Moscou iminente. Então, quando a guerra explodiu, no dia 24 de fevereiro, o papel de Lukasehnko foi fundamental. Àquela altura, o Kremlin já havia posicionado dezenas de milhares de soldados em Belarus, usando o país como rota para a invasão.

Em artigo publicado em 12 de agosto e intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia” (em tradução livre), o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque.

“Nos últimos cinco meses, o presidente belarusso Alexander Lukashenko permitiu que o presidente russo, Vladimir Putin, usasse Belarus como palco para a invasão russa. A Rússia lançou vários ataques aéreos do território belarusso à Ucrânia”, disse ele. 

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, prosseguiu o jornalista, que pediu punição para Belarus.

Tags: