Diplomata é acusado de vazar documento sobre envenenamento de ex-espião russo

Documentos tinham, entre outras informações, a receita do novichok, um agente nervoso usado para envenenar Sergei Skripal e a filha dele

O diplomata austríaco Johannes Peterlik foi removido do cargo de embaixador da Áustria na Indonésia, e um “procedimento judicial” foi aberto para analisar o vazamento de documentos confidenciais sobre o envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal, ocorrido em 2018 na Inglaterra. As informações são do jornal turco Daily Sabah.

Peterlik teria entregado, em 2018, os documentos a um ex-agente da inteligência austríaca acusado de ser um espião do governo russo. À época, o diplomata era o servidor civil de mais alta graduação na hierarquia do governo da Áustria, condição que se sustentou até 2020.

Diplomata é acusado de vazar documento sobre envenenamento de ex-espião russo
Johannes Peterlik, diplomata austríaco acusado de vazar documentos para a Rússia (Foto: Wikimedia Commons)

Durante a investigação, foram obtidos vídeos do agente em posse dos arquivos em questão. O telefone e o computador do diplomata foram apreendidos em setembro deste ano a fim de comprovar as acusações, que foram formalizadas um mês depois, em outubro

Os documentos tinham, entre outras informações, a receita do novichok, um agente nervoso desenvolvido durante os tempos de União Soviética e que foi usado para envenenar Skripal e a filha dele, Yulia. O mesmo produto foi usado para envenenar Alexei Navalny, o maior opositor do regime Putin, preso desde o início do ano após sobreviver à tentativa de assassinato.

Este não é o primeiro escândalo envolvendo a Áustria e a Rússia, cujos governos mantém relações cordiais. Em junho de 2020, um membro aposentado do exército austríaco foi condenado a três anos de prisão depois de ser considerado culpado de espionar para Moscou.

Em 2018, a Áustria não concordou em expulsar os diplomatas do Kremlin após o envenenamento de Skripal. Na época, a maioria dos países da União Europeia (UE) aderiu à expulsão. O motivo alegado por Viena para se abster da medida foi “manter a neutralidade”.

O envenenamento

Sergei Skripal e sua filha, Yuli,a foram envenenados em maio de 2018, em Salisbury, na Inglaterra, e ambos sobreviveram. Na ocasião, a ação também levou à morte da britânica Dawn Sturgess, que teria se contaminado quatro meses depois de Skripal e apenas 13 quilômetros do local do ataque ao ex-espião.

Em 2014, o presidente Vladimir Putin condecorou os agentes responsáveis pelo envenenamento com o prêmio “Heróis da Rússia” – o mais importante do país – pela atuação em uma operação secreta na República Tcheca. Em seguida, os espiões receberam apartamentos em áreas nobres de Moscou.

Por que isso importa?

O governo russo tem sofrido seguidas acusações de coordenar o envenenamento de opositores. Em outro caso semelhante ao de Skripal, o ex-espião russo Alexander Litvinenko morreu envenenado por polônio, um elemento radioativo altamente tóxico, em 2006.

novichok, por sua vez, foi usado contra o político da oposição Alexei Navalny, que foi preso pelo governo russo em janeiro deste ano, no exato momento em que retornava da Alemanha após cinco meses de recuperação médica em função do envenenamento.

Em fevereiro, um tribunal condenou Navalny a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente no período em que estava em coma pela dose tóxica.

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