Huawei enfrenta investigação por corrupção e lavagem de dinheiro no Parlamento Europeu

Gigante tecnológica chinesa teria usado lobby ilegal para influenciar decisões políticas da União Europeia, segundo o governo belga

Uma ampla operação policial contra atividades ilegais de lobby abalou nesta quinta-feira (13) o Parlamento Europeu, resultando em buscas em mais de 20 endereços e no fechamento de dois escritórios dentro da instituição, em Bruxelas. O alvo central das investigações é a gigante chinesa Huawei, suspeita de subornar parlamentares para obter vantagens comerciais na Europa, conforme relatou o site Politico.

A Procuradoria Federal da Bélgica confirmou que as buscas têm relação com supostos crimes de corrupção ativa, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro. Segundo as autoridades, as práticas ilícitas aconteciam “regularmente e muito discretamente desde 2021 até hoje, sob o disfarce de lobby comercial”.

O caso envolve pagamentos ilegais em troca de apoio político, presentes excessivos, viagens e convites frequentes para partidas de futebol.

Entre os locais investigados estão endereços em Bruxelas, nas regiões belgas de Flandres e Valônia e também em Portugal. Dois escritórios de assistentes parlamentares foram lacrados, incluindo o do assessor Adam Mouchtar, figura conhecida por ter vínculos com Eva Kaili, ex-vice-presidente do Parlamento Europeu e pivô do escândalo “Qatargate”, revelado em 2022.

Prédio da Huawei em ShenZhen, na China (Foto: Wikimedia Commons)

Fontes revelaram ao Politico que policiais foram vistos entrando na sede do lobby da Huawei em Bruxelas. A ação ocorre meses depois que serviços de inteligência belgas começaram a monitorar a atuação da empresa, suspeitando que a Huawei estaria utilizando lobistas para promover interesses estratégicos da China e do Partido Comunista Chinês (PCC) dentro das instituições europeias.

O escândalo repercutiu imediatamente entre parlamentares reunidos em Estrasburgo, na França, exigindo uma reação rápida e firme da presidência da casa.

Para Bart Groothuis, membro liberal do Parlamento Europeu, “a credibilidade da nossa instituição está em jogo”, sendo necessárias “medidas claras e contundentes”. O deputado alemão Daniel Freund defendeu que, durante a investigação, a Huawei deveria ser “banida das dependências” do Parlamento.

Victor Negrescu, vice-presidente do Parlamento Europeu para Transparência, afirmou que as alegações são “profundamente preocupantes” e garantiu que a instituição colaborará plenamente com as autoridades belgas. “Não podemos aceitar que indivíduos sob acusações sejam aqueles que influenciam decisões e redigem a legislação europeia”, declarou Negrescu.

Ameaça à segurança

As acusações contra a Huawei fortalecem a desconfiança em torno da empresa, cuja presença é rejeitada em vários países. AustráliaNova ZelândiaCanadáEstados Unidos e Reino Unido são algumas das nações que baniram a fabricante por medo de que a China possa usá-la para espionagem e para realizar outras ações em benefício de Beijing. 

A desconfiança é baseada na suposta proximidade das companhias do setor com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar as gigantes da telefonia a trabalhar a serviço do PCC.

Um caso em particular se enquadra nesse cenário. Em janeiro de 2017, a União Africana (UA) descobriu que servidores de sua sede, na capital etíope Adis Abeba, enviavam diariamente, durante a madrugada, dados sigilosos a um servidor na China e que o prédio estava repleto de microfones escondidos. Os servidores foram trocados, mas um problema semelhante se repetiu em 2020, quando os novos foram invadidos por hackers chineses que roubaram vídeos de vigilância das áreas interna e externa.

Não por coincidência, o prédio havia sido construído com financiamento chinês, por uma construtora chinesa. E os servidores originais, aqueles de 2017, eram chineses. Esse episódio, com o qual Beijing nega ter relação, explica a desconfiança generalizada com a infraestrutura digital proveniente da China.

A Huawei no Brasil

No Brasil, o aumento da presença da Huawei na rede de telefonia vai na contramão da tendência global. São da empresa chinesa mais de 80% das antenas que retransmitem sinal das atuais redes 2G, 3G e 4G brasileiras. E, de acordo com conteúdo patrocinado publicado em veículos como O Globo em maio de 2021, a companhia dizia à época ser responsável por mais de cem mil quilômetros de fibra óptica no país.

A alternativa encontrada pelo governo brasileiro para reduzir o impacto de eventuais brechas de segurança foi a criação de uma rede 5G governamental exclusiva, sem a presença de infraestrutura chinesa.

“Hoje, a Huawei não está apta a participar da rede privativa, segundo o que foi colocado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e pela nossa portaria”, disse o ex-ministro das Comunicações Fábio Faria, no início de novembro de 2021, quando foi realizado o leilão das bandas de 5G.

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