Humanitários descrevem as condições na Ucrânia como ‘apocalípticas’, diz ONU

Pelo menos 474 civis foram mortos desde o início da ofensiva russa em território ucraniano, com outros 861 feridos

No 13º da guerra na Ucrânia, iniciada pela invasão do país por tropas da Rússia, e em meio ao aumento do número de vítimas civis, a chefe de direitos da ONU (Organização das Nações Unidas), Michelle Bachelet, repetiu nesta terça-feira (8) seu pedido por um cessar-fogo, afirmando que os trabalhadores humanitários no país invadido descrevem as condições como “apocalípticas”.

Falando ao Conselho de Direitos Humanos, Bachelet disse que, desde que a Rússia começou sua ofensiva, em 24 de fevereiro, pelo menos 474 civis foram mortos, com 861 feridos.

O número verdadeiro provavelmente será muito maior, dado o tipo de armas empregadas em toda a Ucrânia pelas forças russas, disse o ACNUDH (Escritório do Alto Comissariado).

“A maioria das baixas civis são de ataques aéreos e armas explosivas usadas pelas forças russas com efeitos de ampla área, incluindo artilharia pesada e sistemas de lançamento múltiplo de foguetes”, disse Liz Throssell, porta-voz do ACNUDH. “Como resultado, centenas de edifícios residenciais em muitas cidades, incluindo Chernihiv, Kharkiv, Kherson, Mariupol e Kiev, foram danificados e destruídos”.

Família ucraniana com 11 crianças busca refúgio na Romênia (Foto: Ioana Moldovan/Unicef)

Em meio ao contínuo bombardeio e ao uso de vários sistemas de lançamento de foguetes em cidades ucranianas, o OCHA (Escritório de Coordenação Humanitária da ONU) reiterou a necessidade de estabelecer urgentemente um sistema de trabalho para garantir uma passagem segura para retirar civis e trabalhadores humanitários.

“Você precisa ter clareza sobre a rota. Precisa ser uma rota segura. Você precisa ter tempo para os movimentos”, disse Jens Laerke, porta-voz do OCHA. “Você precisa ter números de contato para aqueles que entram e saem dos comboios. Você precisa saber o propósito de cada movimento. E você precisa ter uma linha direta caso não funcione”.

Os esforços contínuos liderados pela ONU continuam, para chegar a um acordo sobre passagem segura com os dois lados envolvidos na ofensiva militar russa, continuou Laerke. “O OCHA agora tem uma equipe desde ontem (segunda-feira) em Moscou, para fazer a ligação com as autoridades de lá, inclusive com o Ministro da Defesa, para levar adiante o sistema de desconflito. Eles se encontraram pela primeira vez ontem e estão se encontrando novamente hoje.”

Milhões mais vulneráveis

Quase duas semanas após a invasão russa, a situação de milhões de civis dentro da Ucrânia continua a piorar.

“Esta situação é realmente apocalíptica para as pessoas, está piorando, eles estão ficando sem suprimentos essenciais”, disse Ewan Watson, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). “E assim, nosso apelo hoje é realmente para que a ajuda que salva vidas chegue a essas pessoas”.

Watson acrescentou: “Esgotamos nossos estoques, como eu disse; é lógico que as pessoas estão chegando ao fim dos suprimentos que tinham. Então, quando você pergunta se isso é uma questão de vida ou morte, ou se é salva-vidas, a resposta é ‘sim’. Para nós, é essencial que a ajuda humanitária chegue a uma cidade como Mariupol e a outras cidades que hoje estão em meio ao conflito na Ucrânia”.

Unidades de saúde visadas

A situação também permanece terrível para todos aqueles que precisam de assistência médica em áreas sujeitas a bombardeios, alertou Tarik Jasarevic, da agência de saúde da ONU, falando de Lviv, no oeste da Ucrânia.

Dezesseis ataques a instalações de saúde já foram verificados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ceifando nove vidas e ferindo 16, sendo alguns deles profissionais de saúde.

“Esses ataques são uma violação do direito internacional humanitário“, disse Jasarevic, ao ecoar os pedidos para que todos esses ataques parem. “Conversei esta manhã com uma médica em Lviv, que estava em contato com seus colegas na parte leste do país, e eles diziam que é muito difícil para os pacientes acessar os serviços de saúde nessas áreas, não apenas por causa da segurança, mas também por causa da infraestrutura danificada.”

Os dados mais recentes da OIM (agência de migração da ONU) indicam que não houve diminuição no número de pessoas que fogem da violência através das fronteiras da Ucrânia. “Mais de dois milhões de pessoas fugiram da Ucrânia para estados vizinhos como resultado da guerra em curso naquele país”, disse Paul Dillon, porta-voz da OIM. “Entre eles estão 103 mil cidadãos de dezenas de países terceiros”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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