Belarus oferece armas nucleares a países que queiram se alinhar com a Rússia

Ditador belarusso diz que "ninguém se importa que o Cazaquistão e outros países tenham as mesmas relações estreitas" com Moscou

Na semana passada, a Rússia começou a posicionar algumas de suas armas nucleares no território de Belarus, um movimento há muito antecipado e que visa a intimidar os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Segundo o ditador belarusso Alexander Lukashenko, outras nações também podem receber os mísseis russos, basta que queiram. As informações são da rede CNN.

Em entrevista à emissora estatal Rússia 1, Lukashenko disse que “haverá armas nucleares para todos” que queiram se juntar “ao Estado da União de Belarus e Rússia”. E deu um exemplo prático: “Ninguém se importa que o Cazaquistão e outros países tenham as mesmas relações estreitas que temos com a Federação Russa.”

As armas nucleares enviadas por Moscou a Belarus são as táticas. Estas têm alcance reduzido e servem para aniquilar posições estratégicas do inimigo, com precipitação radioativa limitada a cerca de um quilômetro. Diferem, portanto, das armas nucleares estratégicas, capazes de destruir cidades inteiras como ocorreu em Hiroshima e Nagasaki em 1945.

Calcula-se que a Rússia tenha à disposição de suas forças armadas cerca de 1,9 mil ogivas nucleares táticas, o maior arsenal do tipo no mundo. Tais armas podem ser disparadas pela maioria dos jatos das forças armadas russas, bem como por lançadores de foguetes e mísseis convencionais.

No poder desde 1994, Alexander Lukashenko tem a famigerada alcunha de “o último ditador da Europa”(Foto: www.kremlin.ru/ikimedia Commons)

A manobra gerou condenação global, com os EUA encabeçando as críticas. “É o mais recente exemplo de comportamento irresponsável que vimos da Rússia desde a invasão em larga escala da Ucrânia há mais de um ano”, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Matthew Miller.

Por sua vez, a União Europeia (UE) disse que a presença de armas nucleares em Belarus, país que faz fronteira com LituâniaLetônia e Polônia, membros da Otan, é “um passo que levará a uma escalada extremamente perigosa”.

Diante da desconfiança global, Lukashenko limitou-se a afirmar que as armas estão seguras. “Não se preocupe com armas nucleares. Nós somos responsáveis ​​por isso. Essas são questões sérias. Tudo vai ficar bem aqui”, afirmou ele.

Moscou planeja agora construir uma instalação especial para receber as armas, processo com previsão de conclusão até julho. Em um primeiro momento, foram enviados a Belarus mísseis balísticos Iskander com ogivas nuclear, semelhantes aos usados anteriormente pelas duas nações aliadas em exercícios militares no território belarusso.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW), em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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