Macron anuncia retirada de embaixador e tropas francesas do Níger após golpe

Anúncio foi bem recebido pelos líderes militares do país africano, que o consideraram um passo em direção à soberania

No domingo (24), o presidente Emmanuel Macron declarou que a França irá retirar seu embaixador do Níger e seu contingente militar nos próximos meses. O anúncio, feito dois meses após o golpe de Estado que depôs o presidente pró-Paris, foi bem recebido pelos líderes militares do país africano, que o consideraram um passo em direção à soberania. As informações são da rede France24.

Macron explicou sua decisão em uma entrevista concedida às emissoras TF1 e France 2, mencionando que o embaixador e outros diplomatas retornarão à França em breve, embora sem fornecer detalhes sobre o processo. Ele também afirmou que a cooperação militar está encerrada e que as tropas francesas se retirarão gradualmente nos próximos meses e semanas, com uma saída completa até o final do ano.

Apesar disso, disse que seu país estará “sempre pronto” para ajudar a África na luta contra o terrorismo jihadista, contanto que seja a pedido de governos democraticamente eleitos ou organizações regionais.

O presidente francês, Emmanuel Macron, em visita a Moscou em maio de 2017 (Foto: Kremlin)

Os líderes golpistas do Níger reagiram rapidamente em uma declaração transmitida na televisão estatal, comemorando o anúncio como um importante passo rumo à autonomia do país. Eles assumiram o poder em julho, após a derrubada do presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum.

No final de agosto, Macron comunicou que o embaixador da França no Níger, Sylvian Itte, permaneceria no país, apesar de a junta ter exigido que o enviado deixasse Niamei dentro de um prazo de 48 horas

Também no domingo, a Agência para a Segurança da Navegação Aérea em África e Madagáscar (ASECNA) divulgou em seu site que os líderes militares proibiram que “aviões franceses” cruzem o espaço aéreo do país. Não está claro se essa proibição afetará a partida do embaixador.

Apesar de toda a turbulência nas relações, Macron afirmou que nos próximos meses seu governo pretende iniciar diálogos com os líderes do golpe, buscando uma resolução pacífica da situação.

Na entrevista de domingo, o líder ainda enfatizou que a França acredita que Bazoum estava sendo mantido como “refém” e ainda é a “única autoridade legítima” no país. Ele explicou que o golpe ocorreu devido às reformas corajosas que Bazoum estava realizando e também devido a questões étnicas e política.

A França tem consistentemente reconhecido apenas a autoridade de Bazoum, que continua detido pela junta militar, que está atualmente sob sanções impostas por potências ocidentais e nações africanas da região.

Após o general Abdourahamane Tiani assumir o poder no Níger, mais de 1,5 mil soldados franceses foram obrigados a deixar o território. Esses militares anteriormente participavam do esforço internacional de combate ao terrorismo na região do Sahel.

Macron expressou sua preocupação com a região devido aos contínuos ataques jihadistas, que causaram muitas mortes diárias no Mali após o golpe e agora também estão ocorrendo no Níger.

Ele enfatizou que a França, por vezes, teve que agir por conta própria, assumindo responsabilidades militares, mas não tem o papel de gerir a política interna desses países. O presidente destacou que a França está “tomando medidas adequadas” em resposta à situação.

Por que isso importa?

Em 26 de julho, o Níger foi palco de um golpe de Estado, no qual o general Abdourahamane Tchiani, alegando “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, se autodeclarou líder nacional dois dias depois após destituir o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. 

A ascensão ao poder de Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021, marcou uma transferência pacífica de poder histórica no Níger desde sua independência da França em 1960. Ele agora encontra-se sob custódia da guarda presidencial no palácio da presidência e pode ser julgado sob a acusação de “alta traição”.

O político é reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, e Niamei é um dos principais beneficiários da ajuda externa.

Apesar dos apelos de diversos países e blocos regionais, clamando pela reinstauração do presidente deposto, Tchiani rejeitou tais chamados, argumentando que configuram “interferência nos assuntos internos do país”.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), o Níger luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para a nação vizinha.

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